POESIA


  Postado em 11/10/2011

POEMINHA DO QUERER


por Fernanda Caprio

Quero uma coisa,
mas também quero outra,
então, não sei o que querer.

Na verdade, sei o que quero,
mas como não posso ter,
não me animo a concretizar,
e fico sem o meu querer

Por fim, prá querer o que não quero,
perco meu querer,
e termino sem ter.

                                      Então, é melhor querer de verdade
                                      e concretizar o querer,
                                      pois seu querer pode cansar,
                                      e não querer mais você!



 Postado em 09/10/2011


RIBEIRINHO

por Maria Julia Pontes
   
  A vontade escorre pela nuca
A respiração trafega ofegante,
Fujo da seca igual retirante,
E o desejo em mim batuca,

Falta-me o ar antes do chegar
Eu rondo suas esquinas afoita,
Não temo os redemoinhos,
Quero o seu corpo que me açoita,

Faça-me presa, predadora e descaminho.
Dê-me sua boca, pois faltava-me o ar antes
Que me inundasse o ribeirinho.





Postado em 05/10/2011




SEM RISO 


por Lygia Fernandes (Uruaçu - GO)


Rio
Porque sobrou apenas isso.
Esse riso que não é riso,
É esgar,
Movimento labial,
Ricto infecto.
Tristeza e dor.
Dor e tristeza.
Atormentação hodierna
De um coração que petrifica
Inerte no fundo do peito.
Olhos secos e vagos
Rolam embaçados nas órbitas do rosto.
Há muito, bruxuleia a chama da vida
Tornando enfraquecido o andar.
A alma prostrada aguarda,
Sôfrega e súplice,
A derradeira despedida.








Postado em 29/09/2011


SINAL


por Lelé Arantes


Ai de mim, Senhor, que não creio e nem oro.
Queima ainda em mim a escrófula em cruz
— O sinal maldito dos filhos bastardos de Caim —
Deitada sobre meu peito como ígnea cicatriz.
Minh’alma refratária de tudo ironiza, Senhor,
Passando a ferro e fogo crenças e inocências,
Rindo-se a escancaras daqueles que crêem e oram,
Olhando-os com a soberbia própria dos macanjos.
Há muito perdi as esperanças neste mundo vil,
Sou como o urutau que se amalgama nas cores
E de longe tudo perscruta com olhos velozes e,
Com mente arguta assinala os tropeços e os erros dos homens.
Perdi, Senhor, há muito, a esperança na raça humana,
A dor, a crueldade e malícia dos teus filhos me enojam.
Cruéis são os homens com suas máquinas e armas,
Inumanos são os filhos descendentes de Abel.
A sombra da cruz e o martírio do Calvário falharam
E todos estão destinados ao fogo eterno da Geena.
Onde há amor não pode haver miséria nem fome;
O sofrimento e a violência são os frutos do desamor.
Pelos frutos se conhece a árvore e não são bons nossos frutos.
Guerras, tiranias, torturas, malevolência por toda parte,
São esses os legados portentosos dos governos e dos povos
Ditos civilizados e dos reconhecidamente bárbaros.
Não há nada de novo sob o sol, já pregava o Cohelet,
Apenas as aflições, os descaminhos e a frívola vaidade.
Meu espírito, Senhor, aguilhoado pela férrea descrença,
Verbera-se no solferino limo dos acréus e blasfemos
Na vã tentativa de um dia se erguer e com mãos súplices
Mendigar perdão por insultos e negações ao Criador.
Entretanto Senhor, no extremo desespero de minha dor,
Eu lhe imploro que me deixes aqui, prostrado no chão,
Engolfado e enclausurado nesta perpétua vomição
Se o mundo em que vivo é o mundo que tu criastes.