domingo, 15 de maio de 2016

O Rubaiyat

“O Rubaiyat”, do poeta persa Omar Khayyam, em tradução de Manuel Bandeira a partir do francês de Franz Toussaint, tem sido meu livro de companhia. Sua poesia milenar enleva minha alma e me faz pensar sobre o quanto nossa vida é efêmera. Viver e partir ao pó do qual somos originários.
Khayyam se apresenta como oleiro. Talvez fosse. Talvez morasse numa curva da estrada de caravaneiros, na antiga Pérsia. Outros dizem que ele era filho de um fabricante de tendas. E que teria fabricado tendas. Teria vivido toda sua vida em Nishapur, maior cidade da Pérsia há mil anos, e em Merv. Nishapur era uma grande cidade com cerca de 140 mil habitantes.
Ele foi astrônomo, matemático e poeta. Elaborou o calendário mulçumano e foi diretor do Observatório de Merv. Essa cidade, que foi uma das maiores do mundo cerca de 800 anos atrás, hoje está no Turcomenistão; é patrimônio tombado pela Unesco.
Penso que a arte da poesia era o seu hobby. Escrever poesia, apreciar vinhos e admirar as lindas mulheres. Sua poesia nos exorta a viver o presente, esquecer o passado e não idolatrar o futuro.

Vais para o Céu? Vais para o Inferno,
Khayyam? Quem poderá dizê-lo?
Sabes de alguém que tenha visto
Essas regiões desconhecidas?

Sim, isso é a verve do poeta persa, a nos fazer pensar em céu e inferno e na fatal finitude de nossos dias. Num verso anterior ele nos dá seu recado com toda a sinceridade:

Apesar da felicidade
Que gozamos outrora, esqueço
O passado. A doçura de hoje
É, querida, tão imperiosa!

Gosto sim da sua poesia enxuta e direta – bem próxima do ideal de Octavio Paz. Me atormenta o seu pensamento que se ergue século após século como profecias malditas a respeito das insensatezes humanas. Por que estuporar-se sob o sol em busca de sabe-se lá o que para ser feliz se nada nos aguarda no final da caminhada?
Ele se me assemelha ao Eclesiastes. Não há nada de novo sob o sol. Tudo é vaidade, apenas vaidade. E ilusão. Ele e o Eclesiastes assim como os ensinamentos indianos nos alertam para o fato de que tudo não passa de ilusão.
Então somente me resta seguir a sabedoria de Khayyam:

Pobre homem, nunca saberás
Nada; jamais explicarás
Um só dos mistérios do mundo.
E já que as religiões prometem

Depois da morte o Paraíso,
Busca tu mesmo criar um
Para teu gozo aqui na Terra,
Pois outro talvez não exista.




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