por Lelé Arantes
Você gostaria de viver para sempre?
Esta é uma pergunta que me atormenta desde a adolescência.
Inicialmente, aos 17 anos, eu pensava que viver até os 40 seria uma dádiva, porque estaria dentro do terceiro milênio. O mundo chegaria, enfim, aos anos 2000? Meus avós diziam que na Bíblia estava escrito que “dos mil passaria mas aos dois mil não chegaria”. O mundo, é claro! Mas o que eles tinham como mundo? O planeta ou as pessoas sobre o planeta?
Com o passar do tempo do tempo tornei-me cético. Cada vez acreditando menos em tudo. Li todos os livros da Bíblia e não encontrei a tal passagem dos “mil anos”. Amei alguns livros bíblicos e detestei a maioria deles. Amei Eclesiastes. Depois descobri eu não estava sozinho neste amor ao Eclesiastes. Detestei o Levítico. Detestei a entrada na terra prometida. Um morticínio sem sentido. Mas isto é madeira para outra obra.
Quanto mais velho, mas cético fui ficando, até não acreditar nem em mim mesmo.
Hoje, incrédulo e descrente, ainda penso no quanto meus avós estavam enganados. Morreram acreditando que no ano 2000 o mundo e os povos foram devorados pelo fogo.
Então, hoje eu olho para os meus conceitos e preconceitos e fico imaginando o que meus netos pensarão de mim e de nossa geração sobre as coisas que acreditamos hoje e que eles não acreditarão amanhã.
Talvez eles pensarão:
— Coitados, eles acreditavam que um dia descobririam a cura do câncer e todos poderiam viver para sempre! Seria só uma questão de tempo, de boa vontade das indústrias farmacêuticas, dos cientistas e da inteligência artificial.
Morreram acreditando.
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