sábado, 26 de janeiro de 2019

Um homem muito simples

Foi uma noite bastante escura em Brasília.

Estávamos convidados para uma reunião com o senador José Sarney. Na pauta, a velha política maranhense. Seria uma reunião que poderia inclusive rolar um uísque ou uma cerveja, quem sabe. Final de expediente, cerca de oito horas da noite. Não tínhamos a mínima ideia de que como seria a recepção.

Um segurança nos recebeu na porta e nos colocou numa sala enorme. Construção rústica, como uma casa grande de fazenda emergida do século XVIII. A sala, que era realmente grande, estava atulhada de quadros, estatuetas e estátuas. Obras de arte, centenas delas. Caríssimas. Havia um único velho sofá de couro verdadeiro encostado na parede sob um quadro que lembrava Monet. Talvez até fosse. O sofá para duas pessoas; com ele, seriam quatro.

Percorri a sala com olhos ávidos. Havia ali várias telas de artes sacras e uma mesa quadrada também bastante grande e envelhecida, feita de madeira maciça. Fiquei pensando se era mogno ou quem sabe jacarandá.

Não tive muito tempo para vasculhar as obras. Logo chegou o senador José Sarney num impecável terno preto e sapatos brilhantes. Dava a impressão de que acabara de se levantar para ir ao Senado. Ele se sentou no sofá e cruzou as pernas. Virou-se para nós e disse, com uma sinceridade singular: — eu sou um homem de hábitos muito simples.

Ouvi aquela frase e fiquei esperando um leve sorriso por debaixo do bigode. Não veio. Assim como não veio sequer um copo de água gelada para os visitantes. Nem mesmo um cafezinho. A conversa foi rápida e vazia.

Estávamos diante de um homem de hábitos muitos simples.

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