segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O BRASIL E OS NEGROS


Dia desses me vi envolvido numa discussão infrutífera e inócua com relação à cota de negros nas universidades brasileiras. Meu oponente, de pele parda, quase negra, assim como eu, postou-se radicalmente contra as cotas, afirmando que elas deveriam contemplar todos os pobres do país independente da cor da pele. Esquece ele que, em tese, as universidades públicas deveriam contemplar todos os pobres ou, melhor, todos os cidadãos brasileiros. Acontece que, com a precariedade do ensino público, abocanham as vagas nas universidades públicas os alunos que tem dinheiro para pagar os melhores cursinhos e colégios privados.
Na verdade, todos nós conhecemos essa inversão.
A grande questão, porém, é subjacente, ou, como diria o poeta Vinicius de Moraes: o buraco é mais embaixo. Para avaliar a situação do negro brasileiro – o afrodescendente como manda a moda do politicamente correto – basta cada pessoa olhar em torno de si. Vou começar pela maçonaria. Em Rio Preto militam hoje cerca de 800 maçons; não há 5% de negros maçons. Atrevido que sou, diria que não há oito maçons negros na ativa em Rio Preto.
Temos mais de dois mil médicos na cidade. Temos vinte médicos negros? Você que é rotariano pode me apontar quantos negros há no seu clube? Quantos jornalistas negros trabalham nas redações do Bom Dia, do Diário da Região, da TVTEM, da Record, do SBT na nossa cidade? Podem parar para contar, eu espero.
Quantos juízes e promotores negros você conhece? Veja a diretoria da ACIRP, do Monte Líbano, do Palestra, do Automóvel Clube, do Harmonia Tênis Clube...
Não quero falar de presidentes da República, senadores, governadores, deputados, prefeitos... das mais de 300 pessoas que se elegeram vereadores em Rio Preto desde 1894, só podemos contabilizar dois negros. Pedro Amaral e Eni Fernandes.
Não há nada de errado com a nossa sociedade! A única coisa errada é que mais de 50% da população brasileira é negra ou descendente de negro e índios.
Dos índios nem ousamos mais falar. Temos vergonha dos nossos índios. Ah, se pelo menos eles fossem “pele vermelha”, apaches, sioux, navajo, comanche, cherokee... até nisso os americanos do norte parecem ser melhor que os nossos. Nossos índios são um bando de atarracados com nomes esquisitos.
Sou a favor da cota. Sou a favor de se abrir universidades exclusivas para alunos negros e índios no Brasil. Sabem por que?
Porque nossa dívida com negros e índios é muito mais que material e econômica. O resgate espiritual que temos com negros e índios é imensurável.
Não bastassem os sofrimentos físicos, a exploração da mão-de-obra escrava não reconhecia no negro e no índio um ser humano. Milhares de negros viraram comida de peixes na travessia do Atlântico. Um ser humano razoável vomita e chora quando toma conhecimento da fábrica de horrores que eram os navios negreiros. Qual ser humano com alma e sentimentos vomita e se envergonha de como os negros eram tratados quando, cambaleantes, doentes, sujos e empesteados desciam nos portos brasileiros, separados como gado em currais e ao relento para se recuperarem da viagem.
Dá nojo de ser brasileiro quando tomamos contato com essa realidade que, graças a Deus está distante da nossa geração, mas nem tanto. Todos nós aqui, excetuando os imigrantes, tivemos trisavós que foram ou escravos, ou feitores ou escravagistas. Alguns tem os três.
Agora, no Rio, bem no centro da cidade, nos bairros de Gamboa e Saúde, os pesquisadores estão trabalhando no chamado “Cemitério dos Pretos Novos”, onde eram jogados, insepultos, como bichos, os negros que morriam ao descer ou chegavam mortos nos navios.
Agora, depois de tanto tempo, começa-se a discutir a libertação dos escravos, que despejou milhões de famílias negras nas cidades sem dinheiro, sem casa, sem roupas, sem meios de sobrevivência. O país da inversão. Ao invés de indenizar os negros que trabalharam sem receber, eram os fazendeiros que queriam indenização por “perder sua propriedade”. A dimensão dessa catástrofe humana jamais foi mensurada.
Na minha ótica não há nada a se comemorar neste 20 de novembro nem no dia 13 de maio. Há apenas lamentações e muito para se envergonhar. Continuamos devendo muito para os negros brasileiros. 

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