segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

LIVRO DOS DESATENDÍVEIS - CAPÍTULO 7


NAU

Argumenta você, sábia e tateante, que tudo foi sedução. 
Noto nas entrelinhas que disto você mesma descrê. 
Amarfanha a verdade em sua defesa, tão vã, tão frágil... 
Cristaliza-se na veemência de tuas palavras o 
Rubor que afogueia tuas faces contrariando teu 
Ínclito coração que assustado bate em seu peito. 
Sibila em tua alma, num fio de navalha cortante, a 
Trama que ardilosamente tua mente cria como um véu 
Inacabável para soterrar a verdade do nosso amor sob 
Nuances negras e invisíveis a escamotear a mentira. 
Alhures refaz a tua vida – algures refaço a minha como 
Visgo na portinhola do alçapão onde jazem velhos sonhos 
Atirados num canto obscuro do destino comezinho tal qual a 
Nau à deriva em oceanos sebastianistas em que o desejo 
Inexoravelmente apodrece para não mais vicejar.

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