terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

HOMEM DAS FARC


“Tenho linha dura. Em 1968 fui guerrilheiro das Farc, lá na Colômbia.(...) Não tenho medo de ninguém”. São palavras do vereador, misto de sindicalista e motorista e detetive, Daniel Caldeira, publicadas na “Coluna do Diário”, assinada pelo jornalista Alexandre Gama, em 21 de fevereiro. Achei genial tudo isso. Um ex-guerrilheiro na Câmara Municipal de São José do Rio Preto! Isso não é pra qualquer cidade. Ainda mais um guerrilheiro das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC). 

O jornal ficou devendo um aprofundamento neste comentário de Gama. Se isso é verdade, Caldeira merece uma bela reportagem. E se for mentira ou invenção? De uma forma ou de outra, o comentário do edil rio-pretense merece atenção.

Se for verdade, vamos aos fatos. Ele tinha 17 anos em 1968 e o Brasil vivia um acirramento da ditadura militar imposta ao país em 1964 (mesmo ano do surgimento das FARC). Como fez o jovem Daniel Caldeira, nascido em Londrina, interior do Paraná, para sair do Brasil com apenas 17 anos? Como fez para driblar os olhos nada lentos da polícia brasileira? Teria ele, como sugeriu o psicólogo Alexandre Caprio, num post meu no Facebook, cruzado a floresta amazônica num balão? De avião comercial ele não foi – a não ser que, como detetive ele tenha falsificado seu RG. A pé muito menos. Talvez tenha ido de gaiola subindo o rio Amazonas...

Mas por que Daniel escolheu as FARC e não a guerrilha urbana ou a rural (como aconteceu nas imediações de Xambioá e Marabá) aqui no Brasil, já que o país estava sob um ferrenho regime militar? Por que foi tão longe para defender seus ideais?

Mas que ideais?

Era o jovem Daniel um fervoroso socialista ou comunista que sonhava ver implantado no Brasil o famigerado modelo governamental de Moscou? Era ele um stalinista soviético? Talvez um trotskista ardoroso? Um maoista com pendores democráticos? Não sabemos. O jornal ficou nos devendo essa verdadeira pérola histórica que somente agora brota em suas páginas.

A questão toda é que, tendo sido guerrilheiro ou não, o nobre edil Daniel Caldeira, num estado de direito democrático como o atual estágio do Brasil, não tem o direito de sair por ai intimidando as pessoas e, principalmente, seus adversários. Nem tem o direito de transformar a Câmara Municipal num palco de guerra. A Câmara não é um sindicato, apesar de às vezes parecer.

Ao que parece, a Câmara Municipal de São José do Rio Preto está prestes a ser tornar ringue de MMA. César Gelsi ameaça matar o jornalista Rodrigo Lima, do Diário da Região. Este jornalista é um estrepe na vida dos vereadores. Marco Rillo volta e meia sai a socos com alguém. Já bateu até em prefeito. O homem é uma fera petista no pugilo (deve ter aprendido com o boxeador Eduardo Suplicy). Juntando tudo isso, teremos no Legislativo rio-pretense um campo de marte, um palco especial para guerras e guerrilhas. Um deprimente espetáculo que o povo rio-pretense terá que escolher entre aplaudir, como os faziam os romanos nos gládios sangrentos do Coliseu ou virar as costas a este poder que, esperava-se fosse bem mais qualitativo a partir de janeiro de 2013. Não o é, infelizmente.

Recomendo ao presidente Paulera que contrate Luis Claudio Braga Boselli para atuar com o árbitro na Câmara Municipal.

4 comentários:

  1. Lelé, trata-se de figura de linguagem. É como se eu escrevesse nalgum lugar que sou Clark Kent e o açucar não é açúcar, é kriptonita. Ou seja, apesar de forte e impoluto, o que me derruba é a diabetes. Puro sentido figurado. De guerrilha, esse jovem mancebo nao deve nem fazer idéia do que seja, muito menos entender.

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    1. Pedro, as declarações dele estão longe de uma figuração de linguagem. Quero sua opinião como jornalista: se ele realmente foi um guerrilheiro das FARC em 1968, com 17 anos, o jornal não deveria fazer uma big matéria com ele?

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  2. Como sempre, Lelé... brilhante. Gde. abraço. A partir de agora estou seguindo este blog. Seria uma honra que siga também o meu. www.fazendoautocritica.blgospot.com

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