quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

RIO PRETO D - PROMESSAS DE ANO NOVO

Publicado no Jornal D Hoje em 01/01/14


Prometi que após o réveillon farei de regime.

Sei que isto é um autoengano. Mentira deslavada que conto para mim mesmo. Ainda que eu tentasse levar essa promessa adiante, com certeza já cairia por terra na primeira semana de janeiro. Como fazer regime na terra dos pampas? Porto Alegre me aguarda com toda sua riqueza gastronômica e cultural. Vai ser um dia só, mas é o suficiente para perder qualquer dieta.

Porto Alegre é uma das capitais brasileiras que não estão no litoral. É banhada pelo lago Guaíba, formado por quatro rios no delta do Jacuí. Segundo a Wikipédia, Guaíba significa “pântano profundo” na língua Tupi, mas eu prefiro a versão romântica de Teodoro Fernandes Sampaio, a de que significa “baía de todas as águas”. Bem melhor este sentido, soa bem aos ouvidos e à alma.

Fazer regime ou dieta (existe diferença entre um e outro?) é algo que está se incorporando ao nosso dia a dia. Estamos numa sociedade de obesos e nem adianta criticar o McDonalds. Para cada loja do lanche americano existe mais de cem carrinhos oferecendo “xis queijo”... Ou seja, cheese queijo... Não adianta reclamar das dobrinhas que caem por cima do cós da calça. Estamos aprendendo a ser gordos.

Está surgindo agora o Dia da Gordice. Um dia para se empanturrar de tudo o que é engordante. Acho legal. É o dia de comer tudo aquilo que a gente se proíbe durante o ano. Feijão gordo, por exemplo. Sopa de mandioca com costela de vaca. Puchero...! Feijão branco com dobradinha e calabresa. Cassoulet. Caldo de mocotó. Favada com jabá. Sarapatel (que acham que é comida típica do nordeste, mas na verdade é um prato que vem do Alto Alentejo; trazido pelos portugueses).

Diz o rabino Nilton Bonder que comer é uma benção. Quem leu A Cabala da Comida (um livro que me foi apresentado pelo então secretário Orlando Bolçone) entenderá que comer é um ato ritualístico e sagrado. Se partirmos da sacralização da comida, com certeza faremos um esforço danado para engordar. A sabedoria judaica ensina a frugalidade como fator de saúde e economia.

Não precisamos comer tudo o que vemos; nem tudo o que temos. Nem precisamos fazer regimes e dietas mirabolantes. Precisamos sim é de comer com moderação, escolhendo a comida certa para o nosso organismo ou, como dizem os orientais, fazer um equilíbrio yin e yang na alimentação já reduziria bem a obesidade coletiva que está nos afetando.

Mas hoje não é dia de pensar nisso. Hoje a gente começa a comer cedo, pedindo boas festas de porta em porta. O contrário do Halloween, nós só pedimos boas festas; sem travessuras.

No mito da passagem, penso que podemos esquecer aquelas promessas que ninguém cumpre e fazer promessas factíveis, tais como: prometo me esforçar para ser mais feliz e tornar as pessoas felizes neste ano que começa; prometo ser mais simpático e dar bom dia para todos; prometo ser generoso comigo mesmo; prometo me amar verdadeiramente.

São promessas que não exigem grandes sacrifícios e sim boa vontade. Então, neste ano que se inicia, eu desejo que você seja muito feliz.

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