domingo, 4 de janeiro de 2015

RIO PRETO D - SAIGON

 Publicado no Jornal D Hoje em 04/01/15



Para muitos jovens, Saigon é apenas uma música interpretada magistralmente por Emílio Santiago.

Anoiteceu!
Olho pro céu
E vejo como é bom
Ver as estrelas
Na escuridão
Espero você voltar
Pra Saigon

A letra é dos compositores Claudio Cartier, Paulo Feital e Carlão. Penso que na música Saigon é um esconderijo de amantes, um refúgio, algo como uma garçonière, como diriam os franceses ou, um cafofo ou algo assemelhado, segundo o nosso caipirês.

Mas, para mim, Saigon é a capital do antigo Vietnam do Sul. Cidade que teve seu nome trocado em 1975, quando os vietcongs ganharam a guerra contra os Estados Unidos. A partir daí a cidade passou a se chamar Ho Chi Minh em homenagem ao general que criou o Vietnam.

Ele nasceu em 1890 com o nome de Nguyễn Sinh Cung. Ainda jovem, saiu pelo mundo e acabou encantando-se com a doutrina comunista. Aprendeu guerrilha do Marrocos, esteve em Moscou, tornou-se membro do Komintern (comunidade comunista de âmbito internacional). Liderou a guerra pela independência do Vietnam contra a França, ao fundar a Liga pela Independência (Viet Minh).  

Vitorioso, adotou o nome de Ho Chi Minh (aquele que ilumina) e tornou-se o primeiro-ministro e presidente da República Democrática do Vietnam (o Vietnam do Norte), de orientação comunista. De olho na unificação do seu país, ele fundou, orientou e sustentou a Frente de Libertação Nacional do Vietnam do Sul (Vietcong), dando origem à Guerra do Vietnam. Ho Chi Minh morreu em 1969 e não viu a unificação se realizar.

Eu tinha 10 ou 11 anos quando me interessei pela guerra dos vietnamitas. Quase todos os dias eu passava de manhã no escritório do seu Isaías, ao lado da loja do Matiel, para ver as fotos da capa d’O Estadão. Gostava de ver as fotos dos aviões descarregando tanques de guerra e jipes militares; helicópteros com os soldados dependurados com suas metrancas a tiracolo!

Eu mal sabia ler e muito menos interpretar o que as notícias traziam. Gostava do nome do general comandante das tropas americanas: William Westmoreland. Somente muito mais tarde conheci o nível de competência do general que ficou famoso e ganhou uma frase bastante sintomática: “sob o comando de Westmoreland, os Estados Unidos ganharam todas as batalhas em que se envolveram até perderem a guerra”. Entretanto, nenhum outro general foi tão amado por seus soldados quanto ele. É para ele o distintivo "Westy´s Warriors".

Saigon era uma cidade imaginária na minha cabeça de menino que curtia aquela música “Era Um Garoto”, interpretada nos anos de 1970 pelos Incríveis. Gianni Morandi gravou em 1966 “C'era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones”, música de Franco Migliaci e Mauro Lusini. Italianos. Ou seja, uma música italiana para falar da guerra do Vietnam. Crianças, competíamos para ver quem conseguia levar mais longe o “ratatatá...”

Aliás, Os Incríveis se ferraram por terem sido os grandes apologistas musicais dos governos militares, juntamente com Dom e Ravel, com canções como

Eu te amo, meu Brasil, eu te amo /
Meu coração é verde, amarelo, branco, azul-anil /
Eu te amo, meu Brasil, eu te amo /
Ninguém segura a juventude do Brasil.../

A história é implacável com os vencidos. A história do Brasil é contada pelos vencedores e os vencedores foram aqueles que a repressão tentou esmagar a qualquer preço.

Olhando para trás, em confesso que não tenho vontade nenhuma conhecer Ho Chi Minh City... mas teria gostado de conhecer Saigon City.

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