terça-feira, 6 de janeiro de 2015

RIO PRETO D - DIA DE SANTOS REIS

Publicado no Jornal D Hoje em 06/01/14



Acabaram-se os dias de festas.

Antigamente, as festas se encerravam no dia 6 de janeiro. No dia dos Reis Magos. Daqueles três reis que visitaram José e Maria na manjedoura, instigados por uma estrela que os guiou pelos estreitos caminhos da Galileia e da Judeia.

De onde eles eram mesmo? Penso que isso não importa. Cresci ouvindo falar dos reis magos. Por que magos? Seriam eles reis ou sacerdotes? Quem eram esses homens que nos ensinaram a trocar presentes no Natal? A troca de presentes no Natal tem origem com eles. O comércio deve muito aos Reis Magos.

Hoje é dia dos Reis Magos. Dia de Belchior, Baltazar e Gaspar.

Os Santos Reis já me ajudaram muito na vida. Por três anos seguidos eles me ajudaram a espantar a fome que rondava a nossa casa. Com pai doente e cinco irmãos para cuidar, a vida não era fácil aos 11 anos. Janeiro sempre foi um mês difícil para todos; era mais difícil para os boias-frias. Faltava serviço. É doloroso ser pobre. O Brasil nunca cuidou dos seus pobres. Nós fazíamos chegada de Reis em casa. Era uma forma de espantar a miséria.

A chegada da folia era uma tremenda folia de fé. Palhaços e cantorias; terços intermináveis. Eu conheço folia de reis desde a mais tenra idade. Era garoto de calças curtas quando minha avó levou-me com ela ao bairro do Carrillho. Ficamos três dias lá. Ela foi ajudar na cozinha, fazer comida para centenas de pessoas que no dia de Reis seriam recebidas na casa do Tião Cabo Verde.

Muita comida. Mataram-se frangos e leitoas e novilhas. No dia da festa, fizeram macarronada em tachos grandes, em improvisados fogões a lenha. Pães e bolos. Bebidas a mancheia. Uma fartura danada. Gente, como eu gosto dessa palavra.

A companhia chegou logo pela manhã. Violas e violeiros, palhaços e cantadores. Uma oitava se alongava no final dos refrões. A batida do tambor, o dedilhar das violas, os versos rimados e a dança mourisca dos palhaços mascarados e suas espadas de madeira. Uma vibração inebriante tomava conta de tudo e de todos.

A festa é medieval, sim. Ela veio com os portugueses e espanhóis. Nós caipiras gostamos muito.

A cantoria de reis é algo que me fascina. Até Tim Maia cantou para eles e com eles:


Hoje é o dia de Santo Reis
Anda meio esquecido
Mas é o dia da festa
De Santo Reis
Hoje é o dia de Santo Reis
Anda meio esquisito
Mas é o dia da festa
De Santo Reis...


Neste mundo maluco e corrido, onde a pressa apressa todo mundo, é hora de dar uma pausa e curtir a memória daqueles que andaram no deserto seguindo uma estrela em busca do Deus Menino que havia nascido para salvar o mundo. Quero acreditar.

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