Eliane Cunha, do Rio de Janeiro, presenteou-me com um
livro de Martha Medeiros. Admito, com certo constrangimento que nunca havia lido
nada dela. Talvez por falta de oportunidade ou, confesso, por desinteresse e
preguiça. Levei um susto, como editor, ao constatar que o exemplar que estava
em minhas mãos era da 42ª edição. Um susto porque não é qualquer autor que
emplaca 42 edições de uma obra. Que ignorante sou eu!
Apesar disso, fui cheio de dedos ao livro. Adoro
crônicas. De Lago Burnett a Lourenço Diaféria passando, é claro, por Rubem
Braga, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e Paulo Mendes Campos e, quase
ia esquecendo, Rubem Alves. Na verdade, aprendi a ler crônicas com o
rio-pretense João Albano, um cronista de mancheia. Até me arrisquei a escrever
crônicas. Penso em crônicas como uma goiabeira carregada de frutos.
“Doidas e Santas” é o título do livro. Abri aleatoriamente
(por isso amo livros de crônicas; cada uma é uma história, com sua identidade
própria, como impressões digitais) e dei de cara com “Vende Frango-se”. Cai de
quatro diante da maestria de Martha Medeiros. Então eu compreendi que ela nasceu
para mim. Ela escreve para mim.
Arrancar de um erro tão canhestro uma crônica linda sem denegrir
quem pariu essa frase tão singela como “vende frango-se” é uma obra de
caridade. Gostei da forma meiga como ela nos conduz - os leitores - a um
passeio gramatical sem resvalar para a piada barata diante do grotesco anúncio
de venda.
Está chegando agora o tempo das eleições, quando
candidatos de todos os gostos e cores sairão em busca de votos – alguns
comprarão votos. Fico imaginando o leitor sagaz a colocar diante da sua porta o
seguinte cartaz: “vende voto-se”. Quem poderá acusa-lo de venda de votos?
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