sexta-feira, 13 de maio de 2016

Martha Medeiros


Eliane Cunha, do Rio de Janeiro, presenteou-me com um livro de Martha Medeiros. Admito, com certo constrangimento que nunca havia lido nada dela. Talvez por falta de oportunidade ou, confesso, por desinteresse e preguiça. Levei um susto, como editor, ao constatar que o exemplar que estava em minhas mãos era da 42ª edição. Um susto porque não é qualquer autor que emplaca 42 edições de uma obra. Que ignorante sou eu!
Apesar disso, fui cheio de dedos ao livro. Adoro crônicas. De Lago Burnett a Lourenço Diaféria passando, é claro, por Rubem Braga, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e Paulo Mendes Campos e, quase ia esquecendo, Rubem Alves. Na verdade, aprendi a ler crônicas com o rio-pretense João Albano, um cronista de mancheia. Até me arrisquei a escrever crônicas. Penso em crônicas como uma goiabeira carregada de frutos.
“Doidas e Santas” é o título do livro. Abri aleatoriamente (por isso amo livros de crônicas; cada uma é uma história, com sua identidade própria, como impressões digitais) e dei de cara com “Vende Frango-se”. Cai de quatro diante da maestria de Martha Medeiros. Então eu compreendi que ela nasceu para mim. Ela escreve para mim.
Arrancar de um erro tão canhestro uma crônica linda sem denegrir quem pariu essa frase tão singela como “vende frango-se” é uma obra de caridade. Gostei da forma meiga como ela nos conduz - os leitores - a um passeio gramatical sem resvalar para a piada barata diante do grotesco anúncio de venda.

Está chegando agora o tempo das eleições, quando candidatos de todos os gostos e cores sairão em busca de votos – alguns comprarão votos. Fico imaginando o leitor sagaz a colocar diante da sua porta o seguinte cartaz: “vende voto-se”. Quem poderá acusa-lo de venda de votos? 

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