domingo, 3 de março de 2019

Carnaval no Dai

Dai Cucina e Bar, na Andaló com Marechal Deodoro. Sábado de carnaval. Nada aqui lembra carnaval. A música é eletrônica e os cheiros misturam hortelã, maracujá e vodca ou gin ou rum... Continua sendo um bar. Um excelente bar com gente jovem nos servindo. A clientela é bem diversificada, porém com muita gente bonita.
Me sinto no Harry’s que Hemingway narra em um de seus livros ambientados em Veneza. Mas aqui não é Veneza. Só quando chove muito e a avenida Andaló inunda. Um arremedo grosseiro dos canais venezianos. O que me lembra o Veneziano, médico dermatologista que foi vereador. José Raymundo Veneziano, um pouco mais careca que eu. Dono de um belo bigode e de uma boa cultura política. Na política sempre militamos em campos opostos. Ele era de direita radical; e eu, da esquerda festiva, com pendores para uísque escocês (Cardhu, se possível ou qualquer malte uísque), caviar russo e champanhe francês. Todavia, me contentava com  um bom filé à parmegiana do San Remo.
Aqui no Dai já foi Berolli, jornal BomDia, foi Pratic, foi Mix e já foi uma linda casa de muros amarelos que esparramavam verde sobre a calçada da avenida. Velhos tempos de quando a Andaló era point dos desfiles da moçada, pessoas de carros e  motos fazendo as vezes de footing, o lugar da paquera. A Andaló era glamurosa.
De onde estou vejo todo o bar. Não são mais os trepidantes anos de 1980, época em que mal tínhamos um bom chope Antarctica... hoje temos cervejas artesanais. Chope Heineken, Amstel, Brahma e até Stella Artois! Os objetivos continuam os mesmos que é mostrar-se e ser mostrado. Queremos o mesmo de ontem: amar e ser amado. Como isso é tão difícil.
Observo o movimento. Vitória e Lucas fazem os drinques. Lindos drinques. Ele parece um maestro; ela é uma porta-bandeira. Vejo neles uma sintonia que está acima da divisão de espaço de trabalho. Há uma química linda entre eles. Bianca, Larissa, Paulo, Felipe, duas Julianas na falta de uma, Natália fazendo os doces, Fernanda tocando a cozinha... só pessoas lindas e dispostas ao trabalho.
Beberico meu chope enquanto meus olhos de jornalista tudo observam para alimentar a alma do historiador sentado ao balcão como um cliente apátrida e à parte.
E peço outro Heineken com três dedos de colarinho. Afinal, é sábado de carnaval. Sinto falta dos meus novos companheiros da noite: Eduardo e Camila. Ele está com dengue; ela foi namorar e eu estou dodói de uma saudade perpétua.
Enquanto o sono não chega e o chope não sobe, eu escrevo e me mergulho na saudade dos tempos antigos (trinta anos) e aspiro o cheiro gostoso da hortelã com vodca Absolut... peço outro chope e curto essa saudade perpétua que não sai de mim nem a fórceps.

Nenhum comentário:

Postar um comentário