terça-feira, 10 de janeiro de 2012

CHUVA DE GRANITO



Deram-me duas semanas de folga aqui no Bom Dia. Não escrevi no Natal, nem no Ano Novo. Foi muito bom, até porque pouca gente perde tempo para ler artigos em dias tão festivos como estes. Mas estamos de volta.
Vivenciamos tantas coisas neste curto período que não consigo resistir à tentação de escrever sobre algumas coisas que aconteceram.
Começando com a tradicional queima de fogos. Estive lá no viaduto Abreu Sodré, mais conhecido como “viaduto da Andaló”. Para gáudio e felicidade geral do alto comando da Polícia Militar não ocorreu uma tragédia naquele espaço. Dezenas de carros subiram no passeio do viaduto, tomando o lugar das pessoas. Carros andando na contramão, fazendo conversões perigosas e proibidas, pessoas revoltadas a xingar motoristas e tentando quebrar os vidros dos carros. Na hora dos fogos, o trânsito parou. A Polícia, apesar de chamada, não esteve lá no viaduto para proteger a plebe rude na qual estamos, boa parte do povo, inseridos.
Segundo fomos informados, o efetivo estava protegendo os artistas que se apresentavam na cidade. Será que Jair Rodrigues, Negra Li e os demais são celebridades tão célebres que corriam risco de, a exemplo de Grenouille, personagem de O Perfume, de Patrick Süskind, serem trucidados, partidos aos bocados e comidos pelos fãs...? Como bem diz o jornalista Elio Gaspari, os habitantes do andar debaixo sofrem. Patuléia, patuléia...
Como ninguém morreu e acho que não houve feridos, a desordem no viaduto, repito, para regozijo e alegria extremada do comando da PM, vai adormecer no limbo do esquecimento. Nem nos jornais saiu essa fuzarca do fim do ano. Mas quem sabe em 2013 a Polícia Militar e o governo municipal decidam impedir o tráfego no viaduto da Andaló liberando o espaço para as pessoas.
Aliás, está ai uma coisa que não se ensina na vida nem nas auto-escolas. O uso da rua para tráfego de veículos (ou seja, leito carroçável propriamente dito) é uma concessão do pedestre. Portanto, senhores e senhoras motoristas, o pedestre é o dono da rua, não você na direção do seu carro seja ele possante ou não, importado novo em folha ou nacional caindo aos pedaços. Diante disso, passou da hora de atropelamento com morte se tornar crime doloso.
E as chuvas. E o granizo? Lembrei-me de uma vez, na extinta Folha de Rio Preto, em que eu, foca do jornal (e pau pra toda obra!), fui escalado para cobrir os estragos de uma tempestade de verão. Ventanias, pedras de gelo, árvores arrancadas, casas destelhadas e, pasmem, não houve enchente! Mas o estrago foi grande.
Cheguei das ruas na nossa Brasília bege. Fui direto para a minha Lexicon 80 enquanto o Edson Baffi corria para revelar as fotos e entregá-las na clicheria do Sakakibara para fazer os clichês. O chefe da oficina, José Caldeira, ficou alerta, aguardando a ligação da Clicheria para que o paginador da noite, Alairton Zanatta, pudesse fechar a primeira e a segunda páginas. O editor, José Eduardo Furlanetto, doido para fechar a edição e tomar uma Stolichnaya (era a vodka da moda) pediu pressa.
Meus dois dedos da mão direita e de um da esquerda ganharam asas. Escrevi umas 150 linhas em menos de 10 minutos. Fiz uma leitura do texto e mandei para o editor, antes de chegar ao linotipista Venâncio de Melo. De repente o Furlanetto soltou um verdadeiro berro na redação. Levamos um susto. Ele não sabia se ria ou se chorava brandindo minha matéria com as mãos. “O que é isso aqui? O que é isso aqui?” - gritava ele, desesperado.
Era o título da minha matéria: “Ventos e chuva de granito causam estragos na cidade”.
“Pode me dizer onde é que choveu granito? Me diga, me diga?”, vociferava Furlanetto. “Se sai uma porcaria dessas na manchete do jornal estamos todo mundo desempregado!”, ele disse. No final, ele se acalmou, o assunto virou piada, todos riram à vontade, menos eu, que um tanto caxias, não aceitava meus erros. Mas aprendi que existe uma enorme diferença entre granito e granizo, apesar de, de uma forma ou de outra, serem pedras.
Errar é humano, celebra o dito popular. Que a Prefeitura e Polícia não errem novamente na passagem de 2012 para 2013.  Eu, de minha parte, nunca mais troquei Z por T.
  

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