quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O DIA DAS PAMONHAS


Foi uma sexta-feira diferente. Dia de pamonhada. A pamonha tem o dom de reunir a família. Aliás, uma boa pamonhada só dá certo se a família estiver unida, igual abelhas na colmeia.  Diferente do churrasco, onde um assa as carnes e os outros comem fazer pamonhas envolve todos, de mamando a caducando.

A odisséia da nossa pamonhada começou na quarta-feira, com Luiz, Carlão e Michel apanhando o milho. Há uma ciência para escolher as espigas certas. O milho não pode estar duro, nem muito mole. Ele tem que estar no ponto. O estar no ponto é o xis da questão. Nesta apanha de milho, o Luiz resolveu catar umas lenhas e quase foi picado por uma cascavel.
A cascavel gosta de lugares como montes de lenha. Ele levou a mão para pegar uma lasca de madeira e quase tocou a bichona que estava toda enrolada. Ele seu um salto pra trás e soltou um berro de susto, ficando com as pernas bambas e o rosto sem cor. “Pensei que o meu coração fosse explodir”, confessou ele. Para sua sorte, a cascavel nem sequer se moveu. “É por isso que o veneno dela é muito forte, porque ela é muito preguiçosa e vive dormindo”, disse o Valdomiro, na sabedoria de seus 75 anos vividos no mato, nas roças e no lombo de burros e cavalos. Anotei na memória essa informação para checar com os professores Arif Cais e Luiz Dino Vizzotto.
Valdomiro foi amansador de burros xucros, domava cavalos e montava em bois. E o assunto da cobra gerou contos e causos na hora que todos estavam reunidos em volta da massa da pamonha para ensacar e amarrar as palhas verdes.
Coube ao Marcos, ao Valdomiro e eu cortar as espigas e separar as palhas. Também há uma ciência nisso. Nem todas as palhas servem. Separamos as palhas, retiramos os cabelos que ficam entre os grãos. Para ralar o milho vivenciamos outra epopeia. Uma vizinha da Cristina emprestou um ralador elétrico que não funcionou. Maria Helena teve uma idéia e usou uma juicer enquanto dona Zilda buscou um liquidificador, ambas coadjuvadas pela Diva.
Maria Lúcia, Regina, Maria Antonia e eu, munidos de faca, cortamos os grãos espiga por espiga. Era um trabalho de equipe. Cristina e Michele foram atrás de um tacho para cozinhar as pamonhas, enquanto Michel e Andressa buscaram a lenha que a cascavel havia impedido na quarta. Na hora de ensacar as pamonhas chegaram Lenita, Carlão e Silvano.
Neste momento, Regina notou que todos os filhos da dona Zilda com seu primeiro marido, Olímpio, estavam ali reunidos em torno da mãe. Pela ordem de nascimento: eu, Cristina, Marcos, Silvano, Maria e Lenita. Os genros e noras em volta. Faltou o João Preto que sairia tarde do trabalho. Alguns netos estiveram ausentes, mas Michel, Michele, Thaís, Maria Antonia, Juninho, Silvaninho e Marcinho (apesar do diminutivo do nome é o mais alto de todos) compareceram.  Mesmo os ausentes serão beneficiados porque a pamonha é multiplicadora.  Todos com seus sonhos e afazeres. Silvaninho sonha ser artista plástico, Marcinho sonhava ser peão de rodeio e montar o touro Bandido, de Paulo Emílio. 
Pegamos pra valer logo depois do almoço e só terminamos por volta da meia noite. Cansados e com fome, cada pamonha foi saboreada com um manjar dos deuses. Sexta-feira foi um dia dedicado aos deuses da família e dona Zilda caprichou no menu: tivemos cural, bolo de milho, bolinhos de milho fritos, milho refogado e angu de milho verde. Tudo sob a supervisão bem humorada do nosso padrasto, Valdomiro, que herdou para si os netos do meu pai.
Fazer pamonhas em família é uma benção dos nossos antepassados que começa a ser esquecida.

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