segunda-feira, 13 de agosto de 2012

LIVRO DOS DESATENDÍVEIS - CAPÍTULO 1




Ah, perdi há tempos a vontade de escrever!
Não mais a caneta, nem lápis ou tecla, carvão ou giz.
Antes, escrever era minha vida.
Creiam-me, se não mais escrevo não mais vivo.
Rio disso, como rio de mim, palhaço de lágrimas engolidas.
Isso azucrina minha alma, que por não escrever goteja apodrecida.
Sei, sei que não mais sou nem mais serei aquele que se sonhava escritor.
Tinha eu tanta certeza e agora não mais: durmo o sono da morte.
Irrito-me com a inércia insossa dominante de meus dias.
Noites e dias, horas e minutos – tudo em mim é lassidão e frouxidão de vontade.
Antes eu talvez vivia, um tanto Pessoa, um tanto Reis, Caeiro... quase sempre Campos.
Vivo morto-vivo tal qual zumbi de letras.
Augusto na minha pobreza, feroz na tibieza dos meus movimentos:
Nada me acalenta tanto como a vinda bem-vinda dessa morte próxima.
Idos são meus tempos, meus dias e minhas horas.

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