segunda-feira, 15 de outubro de 2012

LIVRO DOS DESATENDÍVEIS - CAPÍTULO 6




Amarrotei o papel onde dormitava seu último recado. 
Nas linhas tortuosas de sua bela caligrafia nada encontrei 
Adrede à minha trajetória de amante cansado. 
Capricórnio não mais abençoa meus devaneios! 
Resta-me, como o grande troiano, fechar meus portões. 
Insufla de longe os ventos de Poseidon riscando meu rosto 
Sofrido e carcomido de maresias incontáveis. 
Tânatos abraça-me e protege-me da fúria de Hipnos: 
Ignoro o sono – seria bem-vinda a morte certa e cega. 
Naufrago em oceanos negros como quem morre sem morrer. 
Anoto no meu coração, com giz de fogo, a fome de morte. 
Vã é minha tentativa suicida de jogar-me das costas de Sísifo, 
A rolar como pedra desgovernada e sem peias. 
Não mais a prisão de minha alma atormentada, 
Irritada e carente na desconexa viagem ao vale da escuridão. 

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