segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

LIVRO DOS DESATENDÍVEIS - CAPÍTULO 10



Admito. Abandonei-te naquele negro momento. 
Nunca amamos ninguém, bem disse Bernardo Soares. 
Amamos, tão somente – egoisticamente – a nós mesmos. 
Cremos num conceito abstrato de um verbo. Apenas. 
Realizamos-nos no olhar apaixonado de outrem e, 
Instintivamente nos achamos amados e amantes. 
Turvamos nossa lucidez com a seiva da paixão: 
Ilusão que logo passa e nos conclama à retirada. 
Não mais os beijos tórridos, não mais palavras macias. 
A ideia de um amor eterno é o silêncio do vácuo. 
Vagos trapos carnais nos tornamos quando alheio o 
Amor nos escapa pelos dedos tal como a areia do mar. 
Não mais o amor, juramos, em cruel solidão. 
Ignorar, é a palavra; ignorar qualquer olhar, é a promessa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário