As ameaças do vereador César Gelsi abrem uma discussão
sobre o jornalismo em São José do Rio Preto que necessitam reflexão e
ponderação. Afinal, qual é a função primordial do jornalismo: informar com
precisão ou usar a informação para lançar dúvidas e suspeitas sobre o caráter
das pessoas que ocupam cargos públicos?
O que temos visto, muitas vezes, são notas e reportagens
que tem em seu bojo a nítida intenção de denegrir a imagem da pessoa, com
comentários que ridicularizam e distorção de respostas. O jornalista não leva em
conta o sentimento do atingido, nem sua imagem perante a sociedade. Ninguém
gosta de ser ridicularizado. Por que o jornal não se limita à sua função maior
que é a de informar, deixando sua opinião para os editoriais, artigos e
colunas?
O pior é que, postados no pedestal da liberdade de
imprensa, qualquer reação a uma reportagem faz com que o jornal e jornalistas
saiam correndo atrás de entidades e personalidades em busca de comentários
bonificadores em favor da imprensa livre, bradando aos quatro cantos que a
imprensa está sendo ameaçada. Não é raro encontramos, nesta busca de apoio,
comentários de personalidades que nunca puseram os pés em São José do Rio Preto
nem conhecem o cotidiano local.
O destempero do vereador César Gelsi, como o jornal
classifica a ira do vereador, deveria, antes de tudo, servir de ponto de
reflexão para a direção do jornal, se perguntando se é esse o tipo de jornalismo
que seus leitores desejam e se a linha editorial está no caminho certo. Há uma
tragédia desenhada no ar e cronicamente anunciada.
Não que a imprensa deva se acovardar, se apequenar diante
das ameaças. Ao contrário. É possível fazer jornalismo com seriedade,
investigativo e forte sem, no entanto, ridicularizar a pessoa, sem levantar
suspeitas muitas vezes infundadas sobre a imagem do outro e sem associações
inadequadas de imagem.
Tenho receio de quando um dos pilares da sociedade, neste
caso a imprensa, necessita de recorrer à proteção de instituições para manter a
liberdade de expressão. Por outro lado, também tenho receio de quando a imprensa
se agiganta acima do direito individual e coletivo e avoca para si o direito de
denunciar, julgar, condenar e expor à execração pública a imagem de um
cidadão.
César Gelsi não é um bandido, nem Rodrigo Lima é
criminoso. Um é vereador, outro é jornalista. Ambos tem a obrigação e
responsabilidade da sobriedade, do equilíbrio e da busca da verdade. Não cabe,
nem a um nem ao outro, o desiderato do destempero e da vingança. Limitem-se à
verdade e a sociedade toda será beneficiada.
Penso que está na hora de a imprensa rio-pretense parar e
refletir sobre o tratamento que dá às personalidades públicas da cidade. Quando
o jornal se refere à vereadora Alessandra Trigo como “Tucaninha” eu vejo nisso
um ato de desrespeito à pessoa, de discriminação e preconceito. Eu não vejo a
imprensa local dando apelidos pejorativos ou “carinhosos” para promotores,
juízes, procuradores e delegados, mas eles também são figuras públicas e recebem
seus salários do Estado, portanto, do povo. Eles também são responsáveis por
ações e atitudes que atingem a sociedade.
É hora de reflexão, chegou a hora da maturidade. Como
jornalista, sou solidário a Rodrigo Lima e defendo com unhas e dentes seu
direito à liberdade de exercer seu trabalho. Como cidadão, não posso negar o
direito do vereador César Gelsi de se rebelar contra as reportagens que ele
entende que denigram sua imagem e sua honra.
Em pleno século 21 não cabe dirimir problemas por meio de
ameaças de morte e agressão; é preciso equilíbrio e serenidade, dois
pressupostos básicos que se esperam de ambos, do médico e do jornalista. Sem
isso, é o caos.
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