sábado, 9 de fevereiro de 2013

UMA REFLEXÃO SOBRE A IMPRENSA


As ameaças do vereador César Gelsi abrem uma discussão sobre o jornalismo em São José do Rio Preto que necessitam reflexão e ponderação. Afinal, qual é a função primordial do jornalismo: informar com precisão ou usar a informação para lançar dúvidas e suspeitas sobre o caráter das pessoas que ocupam cargos públicos?
O que temos visto, muitas vezes, são notas e reportagens que tem em seu bojo a nítida intenção de denegrir a imagem da pessoa, com comentários que ridicularizam e distorção de respostas. O jornalista não leva em conta o sentimento do atingido, nem sua imagem perante a sociedade. Ninguém gosta de ser ridicularizado. Por que o jornal não se limita à sua função maior que é a de informar, deixando sua opinião para os editoriais, artigos e colunas?
O pior é que, postados no pedestal da liberdade de imprensa, qualquer reação a uma reportagem faz com que o jornal e jornalistas saiam correndo atrás de entidades e personalidades em busca de comentários bonificadores em favor da imprensa livre, bradando aos quatro cantos que a imprensa está sendo ameaçada. Não é raro encontramos, nesta busca de apoio, comentários de personalidades que nunca puseram os pés em São José do Rio Preto nem conhecem o cotidiano local.
O destempero do vereador César Gelsi, como o jornal classifica a ira do vereador, deveria, antes de tudo, servir de ponto de reflexão para a direção do jornal, se perguntando se é esse o tipo de jornalismo que seus leitores desejam e se a linha editorial está no caminho certo. Há uma tragédia desenhada no ar e cronicamente anunciada.
Não que a imprensa deva se acovardar, se apequenar diante das ameaças. Ao contrário. É possível fazer jornalismo com seriedade, investigativo e forte sem, no entanto, ridicularizar a pessoa, sem levantar suspeitas muitas vezes infundadas sobre a imagem do outro e sem associações inadequadas de imagem.
Tenho receio de quando um dos pilares da sociedade, neste caso a imprensa, necessita de recorrer à proteção de instituições para manter a liberdade de expressão. Por outro lado, também tenho receio de quando a imprensa se agiganta acima do direito individual e coletivo e avoca para si o direito de denunciar, julgar, condenar e expor à execração pública a imagem de um cidadão.
César Gelsi não é um bandido, nem Rodrigo Lima é criminoso. Um é vereador, outro é jornalista. Ambos tem a obrigação e responsabilidade da sobriedade, do equilíbrio e da busca da verdade. Não cabe, nem a um nem ao outro, o desiderato do destempero e da vingança. Limitem-se à verdade e a sociedade toda será beneficiada.
Penso que está na hora de a imprensa rio-pretense parar e refletir sobre o tratamento que dá às personalidades públicas da cidade. Quando o jornal se refere à vereadora Alessandra Trigo como “Tucaninha” eu vejo nisso um ato de desrespeito à pessoa, de discriminação e preconceito. Eu não vejo a imprensa local dando apelidos pejorativos ou “carinhosos” para promotores, juízes, procuradores e delegados, mas eles também são figuras públicas e recebem seus salários do Estado, portanto, do povo. Eles também são responsáveis por ações e atitudes que atingem a sociedade.
É hora de reflexão, chegou a hora da maturidade. Como jornalista, sou solidário a Rodrigo Lima e defendo com unhas e dentes seu direito à liberdade de exercer seu trabalho. Como cidadão, não posso negar o direito do vereador César Gelsi de se rebelar contra as reportagens que ele entende que denigram sua imagem e sua honra.
Em pleno século 21 não cabe dirimir problemas por meio de ameaças de morte e agressão; é preciso equilíbrio e serenidade, dois pressupostos básicos que se esperam de ambos, do médico e do jornalista. Sem isso, é o caos. 

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