terça-feira, 12 de março de 2013

GUERRA DA DENGUE



(Escrevi este artigo em julho de 2010. E parece que foi ontem. A gotinha do médico Renan Marinho recebeu um pito do estado, assim como Leonardo Boff, que anos atrás foi condenado a um ano de silêncio pelo então prefeito da Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger. O tempo passa e os problemas continuam o mesmo. Enquanto a gotinha do Renan padece no ostracismo, as pessoas continuam morrendo de dengue.)
Foi no governo do presidente Sarney que o Brasil comprou centenas de barcos, camionetes e pulverizadores para combater o aedes aegypti. Era o Brasil se armando para uma guerra, com gastos girando na casa dos bilhões. Passaram-se vinte anos e o pequeno mosquito continua vencendo a guerra. Todos os anos é assim: de um lado os generais criando estratégias e do outro lado os mosquitos surrando os soldados. Como é que um minúsculo mosquito pode fazer tanto estrago? 

Na cidade vivemos um momento diferente. Aqui a guerra encontrou uma nova arma: a gotinha homeopática do doutor Renan Marino. Mas a gotinha, como todas as gotinhas (quem é que vai acreditar numa gotinha?), provocou uma fúria que aparentemente parece não ter sentido. A gotinha parece o cajado de Moisés (lembrando a páscoa judaica!) abrindo em dois o mar Vermelho.

O governo estadual irou e irritou-se com a ousadia dos rio-pretenses. Onde já se viu curar dengue com gotinhas homeopáticas inventas por médico do interior! Ah, vejam só, que petulância desse povo interiorano. O governo deve estar pensando assim: “enquanto nós estamos encomendando vacinas dos Estados Unidos a peso de ouro, em milhões de dólares, vem um médico qualquer do interior com uma gotinha que diz custar um centavo e que ameniza os efeitos da dengue! Ah, vá!”

O remédio do doutor Renan é um tabefe na cara do Estado que ao invés de pegar o remédio para conhecer sua real eficácia manda apreender o que existe, suspendendo, via judiciário, o tratamento da população doente. Analisado, se fosse remédio bom, o Estado deveria distribuí-lo e incentivar seu uso em todo o Brasil; comprovado o contrário o remédio seria apreendido e seu uso proibido. Da forma como agiu e está agindo o Estado apenas evidencia que há algo de podre no ar. As gotinhas mexeram com interesses muito grandes.

A questão das gotinhas contra a dengue está eivada de inveja e cobiça. Inveja em cima de um homem simples que se dedica de corpo e alma à sua profissão e que usou seu tempo para encontrar a cura para uma doença que grassa no país e faz centenas de milhares de vitimas anualmente, algumas chegando a óbito. Cobiça dos laboratórios que ganham milhões com remédios como os anti-térmicos. Mais uma vez, é cabe a rotulação da petulância: enquanto os laboratórios alopáticos gastam milhões de dólares em pesquisas para fabricar e testar uma nova droga alguém começa a usar um remédio que tem custos ínfimos e ainda por cima é distribuído de graça. Ora, isso é um belo soco na sociedade capitalista.

Em nome do risco à saúde pública a Vigilância aparece para recolher os remédios numa truculência sem precedentes na história da cidade. A explicação é vaga e a truculência precisa ser repudiada. A pergunta que precisa ser respondida é: quem está ganhando com isso? Ou, mudando os meios porque os fins são os mesmos: a quem a gotinha rio-pretense contra a dengue está prejudicando? Sem essas respostas, tudo o mais é vago, sem sentido, truculento e irrefletido.

O ex-secretário de Saúde Cacau Lopes escreveu opinião sobre isso, postando-se contra o uso das gotinhas. Sem entrar no mérito, penso que a opinião do ex-secretário ajudou a colocar mais lenha nessa fogueira e serviu como um convite à reflexão, à discussão críticas sobre o assunto. Nós não devemos vergar a cabeça diante do Estado, não nesse caso. O povo rio-pretense precisa reagir e agir. Se o remédio é bom e tem eficácia, nós temos o direito de recebê-lo e de usá-lo.

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