terça-feira, 18 de novembro de 2014

RIO PRETO D - O VESTIDO FLORIDO

Publicado no Jornal D Hoje Interior



Fazia tempo que não ia ao teatro. Fui outro dia, quase por acaso. Fui ver a peça “Ele, Ela os Outros”. Assim como fazia um bom tempo que não ia ao Teatro Nelson Castro. Gostei do que vi. Poltronas fixas, boa temperatura, faltando talvez uma boa pintura. Fiquei feliz por saber que estão cuidando bem do teatro que leva o nome do fundador do Grupo de Teatro Rio-pretense, o GTR. 

Conheci Nelson Castro quando o GTR fez 30 anos. Edson Baffi agendou uma reportagem com ele e me levou a tiracolo para escrever. Saiu na Folha de Rio Preto. Então eu soube que o Baffi havia sido ator do GTR. Fez “Castro Alves Pede Passagem”. E fez “Eles Não Usam Black-tie”. Desde então venho acompanhando o GTR e admirando o esforço quase sisífico de Manoel Neves para manter o grupo em atividade.

Nem sei por que recorri a Sísifo. Talvez por exibição, mostrar que sei alguma coisa sobre mitologia. Sigam meu recado: tem tudo isso no Google. Ficou fácil escrever depois que inventaram o Google. O mito de Sísifo pode ser comparado a cortar as unhas? Você corta, corta e elas nunca param de crescer!

Pois é aí que está o xis da questão. Entrei no Spot Cabelereiros para marcar hora com Isa Montagnini, minha manicure. Ela me apresenta Amanda Mendes, dentro de um vestido de tecido florido e leve e um belo sorriso nos lábios. Parecendo uma rio-pretense típica numa tarde de calor. 

Ela contou-me a história da peça, dos textos de Luís Fernando Veríssimo, da direção de Andrea Bassitt. Me toquei! A última vez que havia ido ao teatro foi para ver “As Turcas”. Sai do salão determinado a ver a peça de Amanda Mendes.

Dois atores em cena, segurando o público, arrancando risadas e, às vezes, até certo suspense. Rodrigo Frampton é um excelente ator, dono de uma postura invejável no palco. É o que pensei no momento, mas logo me retraí porque sei que de teatro não entendo patavina. Porém não é preciso ser nenhum Ulisses Cruz para saber quando um ator está atuando bem. Há uma enorme e abissal distância entre estar na plateia e ser crítico de arte.

O ser humano tem paixão pela representação. Creio eu que a mentira é o primeiro passo da arte de representar. Assim sendo, todo ser humano é um ator nato. No mundo em que eu ando – que espero ser transitório – a arte de encenar é o trunfo que determina o jogo. Trata-se da política, onde a dissimulação não é mero conselho maquiavélico e sim uma realidade perene.

Fecho olhos e revejo Amanda Mendes de sorriso largo, vestido florido de tecido leve, perguntando se o Mercadão ainda estaria aberto. Eram 17 horas, pouco mais. E como uma típica rio-pretense ela caminha com seu vestido florido esvoaçante pelas ruas do centro. Dez minutos depois eu a encontro na farmácia do Alceu com seu sorriso cativante. E ela, despida do invólucro de atriz do grande público paulistano, dá um show de simpatia.

E sou que anuncio na farmácia: olha, ela é um artista de teatro e apresenta peça hoje no Teatro Nelson Castro. E então ela finalmente vai ao Mercadão, antes que as portas se fechem. 

Era com se velhos amigos fôssemos. Ela com seu vestido florido; e leve.

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