quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

RIO PRETO D - AS BOAS COISAS

Publicado no Jornal D HOJE em 17/12/14




Gosto muito de ir a Goiânia de carro. Na volta, vou parando nas barracas da beira da BR 153, tanto em Goiás como em Minas. Não são apenas abacaxis que se vendem em Minas. Barracas exclusivas de abacaxi estão no trecho entre Fronteira e Frutal. No outro trecho, na pista dupla, entre o Trevão de Monte Alegre de Minas e Araporã, na margem mineira do rio Paranaíba, estão as barracas com grande diversidade de produtos. Além do abacaxi, é claro.

Estive em Goiânia domingo passado e no retorno parei numa barraca em Centralina. Aliás, Centralina tem até arranha-céu. A novidade que encontrei desta vez foi carne de porco conservada na banha. São vasilhas de vidro hermeticamente fechadas com quatro quilos e meio de carne. Costelinha e “carne morsiça” como disse o rapaz. Talvez ele quisesse dizer carne maciça. Mas entendi o que disse. Quase comprei; mas fiquei com as coisas de sempre. Queijo minas, requeijão, doce de leite, pimentas e farofas. E abacaxis. 

Em Goiânia, visitamos o Mercado Central. Muitas lojas estavam fechadas, mas pegamos um terço em funcionamento. Geléia de mocotó com canela e paçoca de amendoim adoçada com rapadura, fabricadas em Nerópolis (cidade de Nero; será que em homenagem ao imperador romano?); doce de leite na palha de milho fabricado no sítio Vida Nova Jataí, no município goiano de Jataí, e pequi fatiado envasado em Monte Carmelo, Minas. Não sei como está hoje, mas Nerópolis, no passado, era uma grande produtora de alho. 

Sou apaixonado pelas coisas que as pequenas cidades produzem. Penso que os governos deveriam incentivar mais a produção das riquezas e dos saberes localizados nos pequenos municípios. Como as coxinhas de Bueno de Andrade, distrito de Araraquara. Os doces de leite de Cosmorama, da família Bacani. As cocadas de Nova Itapirema, dos irmãos Rosa. Em toda cidade há algo diferente e uma riqueza fecunda permeia essas economias domésticas, como o bairro da Lagoa Seca, em Fronteira, e o distrito de Olhos d’Água, entre Alexânia e Corumbá de Goiás, no caminho de Brasília. Olhos d’Água tem doces e artesanato de palha e em julho realiza sua famosa Feira da Troca, que já tem cerca de oitenta anos. Os pastéis de bacalhau de Vila Velha, no Espírito Santo, e os licores de Porto Seguro, na Bahia.

Ah... não posso esquecer Engenheiro Schmitt com seus doces cristalizados e posso adiantar e assegurar que dificilmente você encontra doces cristalizados como os de Schmitt no restante do Brasil. Cristalizado é diferente de glaceado que, por sua vez, é diferente de glaçado. Em Schmitt se produz doces cristalizados como figos, abacaxi, abóbora, mamão... 

Tenho vontade de correr as corrutelas para saber o que cada uma produz. Ibiporanga, Ecatu, Simonsen, Ingá, Mangaratu, Jurupeba, Duplo Céu, Boa Vista dos Andradas, Vila Alves, Vila Carvalho, Sol, Dalas, Rincão, Vila Nova... só na região de Rio Preto são mais de 50 vilinhas! Quantas coisas boas devem ter espalhadas por ai e nós desconhecemos. Como o queijo do Scriboni! Hummm... bãodimais, como diria meu amigo Tagiba.

Mas nada pode ser comparado a omelete da dona Luísa (mulher do Zé do Cinema) e ao frango recheado com gairova da quermesse de Cosmorama. Garanto que não é memória afetiva. Para não ficar restrito aos amores cosmoramenses, digo que a carne de porco de Pouso Alegre de Baixo, lá de Jaú, também está na lista dos comes imbatíveis.

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