sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

RIO PRETO D - ANDAR É PRECISO

Publicado no Jornal D Hoje em 28/12/14




Um ossobuco com polenta, no imponente Babilônia Gastronomia. É o prato que escolhi por volta da meia noite, em Curitiba. Cheguei faminto e acho que o ossobuco é minha sina curitibana. É a segunda vez que traço esse prato. Tutano puro, coisa boa, engordante, algo que meu pai iria adorar de lamber os beiços. Era tarde da noite para um prato tão pesado. Mas quem se importa! Talvez a loira de nariz grande que me observou de cima embaixo achando, quem sabe, que estive disponível para uma paquera.

Jorge Luiz Martins, meu anfitrião, pediu um suco de abacaxi com hortelã. Eu pedi um chope Brahma Black. Caí do cavalo. Não tinha. Tentei uma Pagan. Também não tinha. Havia três marcas estrangeiras. Era um despautério tomar cerveja estrangeira numa das cidades que fabricam as melhores cervejas artesanais do Brasil.

Quem viaja comigo às vezes se irrita com meus disparates. Gosto de comer e beber as coisas do lugar. Culinária nativa, bebidas locais. Coca-Cola, Pepsi, Guaraná Antarctica, Skol, Brahma, Schin... isso tem em todo lugar. E churrascaria? Quer me irritar, me chame para uma churrascaria em Recife, Salvador, Fortaleza ou Maceió... é o fim da picada. Eu quero é conhecer a diferença do baião-de-dois!

Existe uma diferença enorme no jeito de fazer um baião-de-dois. Confesso que o de Maceió tem a minha preferência. Cubos de carne seca, queijo coalho e feijão verde... Só perde para o pernil de bode da Paraíba. A traíra sem espinho da vila Planalto, de Brasília, só tem rivalidade com o tucunaré na banha, de Macapá, ou o espeto de filhote, de Palmas. O camarão do Donana, de Salvador, e o peixe da praia do Biquinho, em Lauro de Freitas; o rodízio de peixe de Campo Grande ou as peras de Cuiabá; o risoto do cerrado, de Goiânia, e o churrasco uruguaio de Porto Alegre... Ou ainda o camarão com maxixe, de Fortaleza, e o carré de carneiro do Ordones! A lagosta gratinada de Natal e o arroz de cuxá e patinha de caranguejo de São Luís. É um sai debaixo sem limites.

Voce já tomou o Guaraná Real Clássico ou o Tauá ou, então, o Tuchaua, o Regente, o Baré,  Magistral... são refris de Manaus. O Jesus, do Maranhão. O Psiu, do Pernambuco. Príncipe Negro, de Barbacena; Mate Couro e o Mineiro... guaranás de Minas. As laranjinhas de Santa Catarina e as cajuínas do Piauí? Como é que eu posso viajar e abrir mão dessas gostosuras locais. Não dou conta.

Lá no Espírito Santo tem o Coroa e o Uai; em Curitiba tem o Cini; aliás, o Genbibirra é um delicioso refrigerante de gengibre. Já bebeu um Marajá gelado? Então você não esteve em Várzea Grande, ao lado de Cuiabá. Agora ando querendo experimentar o Convenção, de Itu, mas também é fabricado no Rio e em Caieiras. Bom, você vai me perguntar da Dolly? Não sei onde fica essa fábrica. Sei onde fica a Saboraki. É daqui pertinho, ali de Jales; que antes era de Estrela D’Oeste e seu guaraná era o Imperial (este nome é mais bonito que o atual). Assim como a Poty é de Potirendaba e a Cotuba e a Arco-Íris é do nosso Distrito Industrial. Faz muito tempo que não vejo a Ferrari e a tubaína Funada, de Prudente.

Sem plagiar Pessoa, andar é preciso (de necessidade e não de exatidão).

[Curitiba, PR – 19/12/2014]

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