domingo, 7 de dezembro de 2014

RIO PRETO D - OS RIOS VOADORES E McCARTNEY

Publicado no Jornal D Hoje em 07/12/14





A água despencou do céu. E de onde estávamos, na cobertura do prédio, podíamos ver, lá embaixo, toda a estrutura do Estádio Nacional Mané Garrincha. Odécio Rossafa e eu bebericávamos um chope Brahma, jogando conversa fora. Petista de carteirinha, ele acredita piamente que a presidente Dilma Rousseff vai dar a volta por cima e recolocar o país nos eixos da economia. Eu sou mais cético; deixei - há algum tempo - de sonhar. Aliás, este é o grande pecado do homem: perder a capacidade de acreditar nos sonhos.

No momento em que chovia forte em Brasília, chovia também em Rio Preto. Rossafa me falou da tese de um amigo dele sobre os rios voadores. Trata-se de um projeto arrojado que envolve vários professores brasileiros e nasceu do sonho do suíço naturalizado brasileiro Gérard Moss e do professor Enéas Salati, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo os estudiosos, existe uma ligação significativa entre o sistema climático amazônico e o da bacia do rio da Prata. Eu nunca tinha ouvido falar sobre a existência do transporte do vapor de água amazônico por essas massas de ar que são denominados rios voadores. Ou rios aéreos, como queiram. Nem posso imaginar que o volume de vapor de água lançado para a atmosfera pelas árvores da floresta amazônica pode ter a mesma ordem de grandeza da vazão do rio Amazonas, isto é, 200.000m3/s.

Parece loucura, mas essa foi a essência da nossa conversa na cobertura do hotel San Marco, vendo à frente as luzes do Estádio Mané Garrincha. Não gosto do nome Estádio Nacional. Remete-me à ditadura chilena, aos tempos negros de Pinochet, ao filme Missing – Desaparecido, um Grande Mistério, do diretor Costa-Gravas, com Jack Lemmon, Sissy Spacek e John Shea. Lembra-me a história deste filme que trouxe à luz o assassinato do escritor e jornalista Charles Horman, enterrado nas enormes massas de concreto do Estádio Nacional, de Santiago, a mando dos cães de guerra de Augusto Pinochet.

É verdadeiramente fantástico o que os homens podem fazer contra seus irmãos em nome de uma doutrina, de um discurso, de uma causa, tenha ela qual matiz tiver. Há determinados fatos que nos fazem rever nossos conceitos de justiça, de certo e errado, de bem e do mal. Indico para leitura o livro Justiça – O que é Fazer a Coisa Certa, de Michael J. Sendel, filósofo de 61 anos, professor de Harvard. Para não pensarem que sou um cabotino desavisado, devo informar que a leitura deste livro me foi recomendada pelo psicólogo Alexandre Caprio.

Odécio Rossafa lamenta não ter ido ver o show do músico geminiano Paul McCartney, em 23 de novembro. Disse que nem a chuva torrencial impediu que quase 50 mil pessoas fossem ao estádio e que talvez esta tenha sido sua última oportunidade. “No lo creo”, diria seu pai. McCartney tem 66 anos. Nos tempos atuais, isso é o ápice do homem. Odécio tem 56. Ambos tem idade para se verem mutuamente em qualquer época dos próximos dez anos.

Eu talvez não, porque não sou chegado a estes grandes aglomerados de gente em estádios e arenas. Prefiro curtir Paperback Write e All My Loving no aconchego do ar condicionado do meu carro!

(Brasília – DF, 4 de dezembro de 2014)

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