terça-feira, 2 de dezembro de 2014

RIO PRETO D - A ÚLTIMA BELEZA VERDE

Publicado no Jornal D Hoje Interior publicação em 02/12/14




Eles chegam afoitos, com uma sanha estranha, como se um ódio feroz os consumisse por dentro e, de facão e serrote empunhados, às vezes até de motosserra, avançam sobre as árvores num linchamento ecológico impiedoso. Nada os detém. Ninhos com ovos e filhotes (os pássaros igualmente são desprovidos de vida nessa obtusidade desalmada) vão caindo com as galhadas, as folhas, as flores, os ramos, os caules em podas drásticas que além de tudo nós pagamos para o caminhão da Prefeitura retirar...

A fotografia do grande mestre rio-pretense, nascido no Líbano, Mohamad Kharfan, registra o último remanescente verdejante do centro da cidade, na rua Voluntários de São Paulo esquina com Siqueira Campos, onde as árvores generosamente formam um arco de vida e esperança. A foto é uma tentativa de imortalidade antes da chegada dos vândalos que abatem e sacrificam árvores como quem trucida uma peçonha.

Um dia olharemos fotos como essas e lamentaremos profundamente o nosso descuido, nosso menosprezo e nossa indiferença e nos arrependeremos por não termos feito nada para impedir a devastação. No futuro precisaremos de dinheiro para comprar, nas prateleiras dos supermercados, o ar que usaremos para respirar e viver no deserto que estamos criando.

Meses atrás, os que amam as árvores e o verde venceram uma batalha que se dava por perdida. Conseguiram evitar o corte de um enorme guapuvuru cujos galhos formam uma grande e majestosa taça verde na sua copa. Depois de muitos protestos, os empreendedores imobiliários (uma parcela que ainda não se deu conta de que é possível integrar natureza e blocos de concreto) decidiram modificar o projeto original e abraçar a árvore que a cidade adotou como dela.

Entretanto, há centenas de árvores espalhadas por aí que tem o porte do imponente guapuvuru. Volta e meia uma gigante dessas cai no asfalto, vítima da sanha da motosserra urbana e muitas sob o pretexto de que estão "brocadas" por dentro. Ou então, a CPFL faz o serviço sujo em nome da proteção da fiação. Em São Paulo, Belo Horizonte, Campinas e Maringá as grandes árvores convivem harmonicamente com a fiação elétrica. Menos em Rio Preto.

Dia desses, quase acabaram com as falsas seringueiras (Ficus elastica Rox; ou, fícus italiano e ou figueira branca) do Cardeal Leme. Grandes galhos das árvores foram serrados porque estavam atravessando as ruas sem atrapalhar ninguém. Ficou-se com medo de que algum galho se quebre. Só pode ser.

Abraçar as grandes árvores e plantar outras, encher as ruas da cidade com árvores nativas, de pequeno e médio porte, com frutíferas que possam alimentar os pássaros e ao mesmo tempo oferecer sombra - essa é a única forma que temos de barrar o calor de deserto que temos vivido nos últimos anos e cuja tendência climática é aumentar ano a ano. 

Não se enganem com alguns colunistas incensados pela revista Veja e pelos capitalistas de direita. O problema do aquecimento global e das mudanças climáticas é real, quer queiram ou nãos os senhores Rodrigo Costantino, Olavo Guimarães ou Reinaldo Azevedo. Esses caras, nesta questão especial do clima, não podem ser levados a sério por que são meros papagaios a repetir os pseudocientistas que estão a favor do capitalismo internacional.

Precisamos cuidar do nosso quintal e da porta da nossa casa. Chega de derrubar árvores na nossa cidade; caso contrário, isso aqui se tornará um cantinho inabitável do inferno.


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