quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

RIO PRETO D - URSOS POLARES NA GALILÉIA

Publicação no Jornal DHoje de 11/12/2014






Cada ano o Papai Noel chega mais cedo. E com eles as músicas natalinas. Convenhamos que são músicas muito, mas muito chatas. Só mesmo sendo criança para gostar dessa repetição monótona.

Verdade seja dita, o mundo se tornou repetitivo e patético. A rotina é massacrante, principalmente para um geminiano hiperativo (a psicanálise me acha hiperativo; e eu, para mim mesmo, sou um chato que não gosta de ficar parado). Dizem que quem fica parado é poste e que cobra não anda não engole sapo. O doutor Domingo Braile me diria que a vida é movimento; a vida é caos. E a morte é caos, portanto, a morte é vida.

O leitor desavisado diria que a morte é a inércia. O corpo, no caixão, está inerte, paralisado. Ledo engano. O corpo, ainda que morto, viceja. Milhares de vermes comem o corpo de dentro para fora. E esses vermes, quer queiramos ou não, fazem parte do corpo; estão no corpo desde antes do nosso nascimento. É por isso que gosto de Otto Rank.

O Natal nos consome com sua barulheira de grilo cantante. Sempre o mesmo compasso, as mesmas letras, os mesmos acordes. E o vermelho do Papal Noel, essa neve e essas renas, esses ursos brancos e trenós voadores. O sino pequenino de Belém... Os presépios e a manjedoura, os reis magos e o canalha do Herodes matando crianças numa matança que nunca foi registrada na história do povo judeu. 

O natal como acontece atualmente, merece letra minúscula. Jesus, o aniversariante do dia, nascido em Nazaré, nos confins da Galiléia, foi deixado de lado. Dizem que até a Missa do Galo, que a gente esperava ansiosamente quando criança, não é mais celebrada à meia-noite. Éramos doidos pela Missa do Galo porque somente depois dela o Papai Noel atrelava suas renas ao trenó para distribuir presentes aos menos mais comportados.

Como eu era arteiro e, como dizem nos entendidos em comportamentos humanos, hiperativo, via de regra eu era penalizado pelo tal do “bom velhinho”. Ele me castigava feio ao me negar os presentes que eu achava ter direito. E minhas notas boas na escola? E meus primeiros lugares em todas as disciplinas na escola, como ficavam?

Não ficavam. Quem ficava era eu, sem presente. Uma vez me senti tão triste que o tio Paulo, que era solteirão, saiu no Natal para me comprar um carrinho. Veio um pequeno carrinho de corrida, de um plástico transparente de tão fino, que tentava ser azul. Claro que fiquei feliz, por um instante, pela sua intenção de dar-me um brinquedo. Tio Paulo tinha um coração de ouro. Era diferente dos irmãos. Diziam, na família, que ele deveria ter sido padre.

Há, comentavam que ele, aos 14 anos, teria sido convidado pelo próprio D. Lafayette Libânio a ser seminarista. Eles moravam em Onda Verde e meu avô não deixou que ele seguisse o bispo. Meu avô foi imbecil. Ele queria o filho apenas para ajuda-lo a ficar mais vagal do que era.



Jesus nasceu num dia de março qualquer, mas combinamos comemorar seu aniversário em dezembro, do jeitinho que os romanos gostavam e nos legaram. Mas, aqui entre nós, ursos polares na Galiléia...? é pra fazer Jesus descer da cruz!

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