terça-feira, 6 de janeiro de 2015

RIO PRETO D - SISSI E JOSÉ DE ARIMATEIA

Publicado no Jornal D Hoje em 07/01/14



Foi o Nelson Brandão que me informou que o Sissi morreu. Faz um mês. Seu nome, verdadeiro: Juraci Moreira.  Foi motorista da Rádio Independência AM, na época de ouro do rádio rio-pretense. Tive muito pouco contato com ele. Quando cheguei à Folha de Rio Preto a era do rádio AM estava entrando em decadência, cedendo lugar à FM.

Nunca trabalhei em rádio. Rejeitei diversos convites para ser repórter de rádio. Achava que não tinha voz para isso. Admirava – e ainda admiro - o vozeirão de Roberto Toledo, Marcelo Gonçalves, Alexandre Macedo, Hilton José, Maurílio Lubeno, Sorroche Neto, Roberto Souza o dono da noite... Gostava de visitar o Antonio Molina, madrugada adentro, quando ele tinha seu programa na Rádio Centro América, só pra prosear e dar risada.

Mas o Sissi faz parte da história do rádio. Ele vivia acompanhando o Alberto Cecconi, um dos donos da Independência, para cima e baixo. Segundo o jornalista José Luiz Rey, confirmado por outros tantos radialistas antigos, como o saudoso César Muanis, Sissi protagonizou uma das maiores gafes da história do rádio.

Foi na época da radionovela, nos meados da década de 1960. A Independência exibia um programa ao vivo sobre a Paixão de Cristo. Era audiência garantida e alcançava os píncaros do ibope. No dia da apresentação, na Sexta-Feira Santa, um dos radio atores ficou doente. Era quem representava José de Arimatéia. Pra quem não sabe, José de Arimatéia é a personagem que ajuda Jesus Cristo num dos momentos em que ele cai com a cruz, no trajeto da via dolorosa.

O diretor (se não me engano era o Rubens Muanis), chamou o Sissi e pediu-lhe para substituir o ator. Sua participação era simples. Na hora certa, Jesus lhe perguntaria: quem és tu? E ele deveria responder: Sou José de Arimatéia. Somente isso. E nada mais.

Mas Sissi, apesar de trabalhar no rádio, como motorista, não era locutor; não tinha intimidade com o microfone. Ficou meia hora andando pra lá e pra cá nos corredores da rádio repetindo sua fala: “sou José de Arimatéia”, tentando encontrar um tom de voz que mais lhe agradasse ou que mais grave lhe parecesse.

Chegou o momento esperado. Sissi estava nervoso, suava em bicas. Era sua estreia no rádio. Era uma pequena participação, mas ele encarou tudo aquilo com uma seriedade agoniante. Quando ele foi chamado, aproximou-se do microfone, com a testa pingando suor, e aguardou o momento da pergunta dolorosa. Jesus perguntou, com um fio de voz e muita dor na entonação:

- Quem és tu?

E Sissi, pálido, já sem respirar, respondeu:

- José de Aritmética!

Atônito, Jesus perguntou novamente:

- Quem és tu?

E Sissi, desesperado, respondeu, já alterando a voz:

- José de Aritmética!

E Jesus tenta mais uma vez:

- Queeeeeem?

E ele, atordoado, com a voz embargada, repete, com leve pausa:

- José... de Aritmética...

Alguém o puxou para fora e a novela continuou... sem José de Arimatéia.

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