sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

RIO PRETO D - QUINTANA

Publicado no Jornal D Hoje em 09/01/15





Pela quinta vez visito Porto Alegre. Cidade linda, bem arborizada, mesclada de prédios antigos e modernos. Mas é a primeira vez que tive um tempo livre de meio dia. Tempo curto, mas suficiente para perambular pelo calçadão da Rua da Praia, pela rua dos Andradas, avenidas Octavio Rocha e Alberto Bins, checar as lojas da rua das Flores, xeretar no Mercado Público e admirar os hippies da Praça da Alfândega.

Prometi visitar a Casa de Cultura Mário Quintana. Mas antes tive o privilégio de vê-lo em ferro proseando na praça com Carlos Drummond de Andrade, ali nas imediações da Esquina Democrática. Devem ter muita prosa para colocar em dia e agora sem nenhuma pedra no caminho. Quintana deve ter dito a Drummond: “O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo.” E Drummond deve ter acenado assertivamente com a cabeça.

Levo um choque quando chego à casa de Mário Quintana. É um belíssimo edifício de sete andares, onde antigamente funcionou o Hotel Majestic. Quintana morou aqui, pensei comigo. Estou aqui onde ele viveu, onde ele tamborilou com seus fantasmas internos seus escritos fenomenais. Penso em Quintana encapsulado em si mesmo para gestar as boas coisas que ele deixou para que nos deleitássemos com leituras e sonhos.

Entro no prédio e uma mocinha loira da recepção me aconselha a começar do sétimo andar. Lá encontro o Café Santo de Casa, um lugarzinho ajeitado, frequentado por gente descolada, onde Buda, Nossa Senhora Aparecida, imagens de santos, bruxa, um pequeno preto velho, um papai noel caidaço e fitas de Nosso Senhor do Bonfim convivem harmonicamente com uma chopeira da Rasen, cervejaria da vizinha Gramado. No calor de quase 40 graus, o café é um oásis maravilhoso onde, à tardezinha, as pessoas se sentam para ver o pôr-do-sol no Guaíba... Eu ficaria ali horas e horas, mas o dever me chama.

Há muitas coisas que quero conhecer em Porto Alegre, mas falta tempo. O comércio de rua de Porto Alegre me chamou muito atenção e vou perguntar ao leitor: “você sabe qual é a diferença entre o comércio porto-alegrense e o da 25 de Março, o de Belo Horizonte, o de Belém ou, o de Goiânia?” O sotaque sulista. Aqui vende-se de tudo, até porco inteiro. Não difere nada dos mercados populares de Fortaleza ou Maceió.

Essa é a grande dinâmica do Brasil. É tudo igual de norte a sul. Quem não conhece Porto Alegre imagina ser aqui uma cidade de clima frio e gente loira. Engana-se. O calor de hoje está empatando com o de Teresina. Vi mais gente morena e negra do que loiros de olhos azuis. Você pode me dizer que a elite é loira. Poder ser. A elite é branca no Brasil todo, com raras exceções; não seria diferente em Porto Alegre.

Não visitei, desta vez, o Gasômetro, e nem pude visitar a sinagoga para conhecer o rabino Nilton Bonder. Aliás, nem sei que ele continua morando no Sul. Depois do sucesso dos seus livros, pode ser que ele tenha deitado raízes em São Paulo ou no Rio. Mas pode ser que amanhã eu tire um tempo para conhecer a sinogoga. (Porto Alegre, 7/12/2015; 16h45)

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