quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

RIO PRETO D - PREPOTÊNCIA

Publicado no Jornal D HOJE em 12/02/2015




Um dia Ademir Rodrigues disse, numa palestra, que o corpo é química. Tudo que você consome tem uma relação com a química do corpo, produz efeitos internos que podem gerar diversas reações, numa enorme rede em cadeia gerando bem-estar ou mal-estar. Ademir sabe o que o diz. Ele abandonou uma profissão consolidada como fisioterapeuta especialista em joelhos para abraçar a nova tendência mundial de cuidados com o corpo.

O corpo é estranho para a maioria dos seres humanos. Para muitos, o corpo é apenas um corpo e nada mais. Para outros, o corpo é um invólucro que guarda um conteúdo sagrado que para uns chama-se alma, ou espírito, célula-mater... há quem vê no corpo uma intrincada máquina cheia de bilhões de pequenas coisas, de artefatos invisíveis, expressões corpóreas e incorpóreas, células, bactérias e outros bichos que andam e vivem em grupos hostis.

Pouco sabemos sobre nós mesmos. No interior do nosso corpo existe uma guerra contínua que foi deflagrada desde o momento da concepção e persistirá até após a morte. Essa guerra tem vencedor e ele é interno. O verme que nos gera, na forma de espermatozoide, irá nos comer no final da jornada, quando tombarmos como todos tombam. É comum esquecermos que os vermes que se banqueteiam em nosso corpo nos come de dentro para fora e não ao contrário.

Gosto de Otto Rank. É terrível e doloroso saber que nascemos entre fezes e urina e seremos depois pasto de vermes. Que coisinha ridícula é o ser humano! E mesmo assim somos geniais em nossa arrogância e prepotência, em nossa horripilante capacidade de nos agredir e agredir a quem amamos. Hoje, eretos e queixo firme, peito estufado para fora, esgares de desprezo e orgulho para no final das contas sucumbirmos à fúria de um vírus ou de uma bactéria invisível.

Nossa pele é carregada de ácaros, de minúsculos vermes que se infiltram em nossos poros; nosso corpo é regado por água empesteada de coliformes, consumimos milhões de partículas de porcarias todos os dias, mas nada disso nos quebra a crista. Somos a ponta da cadeia alimentar - desde que não existam leões, leopardos e onças famintos por perto – e no entanto necessitamos de dinheiro para comprar aquilo que a natureza nos dá gratuitamente.

O que os seres humanos fizeram com os seres humanos? Quem inventou a propriedade cuidou de inventar a miséria e o dinheiro. O balé da sobrevivência dos seres humanos é um circo de horrores apresentado no centro de uma guerra de pulgas. Que química supera a química da tinta do dinheiro e o tilintar do viu metal? (Viu, de ver!). O vil metal fica para o chororô musical de Belchior.

Sei que quando a fome me aperta eu fico mal humorado, minha alma queda-se triste e ensimesmada, e me faltam forças para tudo. A pressão cai, a disposição torna-se in. E nada do que penso faz sentido. Ademir Rodrigues recomendava, quando viajávamos juntos: preciso equilíbrio na alimentação, dosar as proteínas e os carboidratos; saber o que seu corpo precisa e quando precisa.

Claro que fui um péssimo aluno e ouvinte. Lembrei disse por causa da queda de pressão que sofri ontem de manhã após abusivo consumo de café.

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