quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

RIO PRETO D - SINTONIAS

Publicado no JORNAL DE HOJE em 11/02/2015





Fiquei dois meses sem carta de motorista, a tal de CNH. Por causa disso, diminuí minha presença motorizada nas ruas. A consequência foi imediata: menos raiva e menos discussões no trânsito. Portanto, menos estresse. Algumas pequenas e incômodas dores de cabeça sumiram de repente. 

Ontem, não sei se apenas comigo, mas o trânsito estava infernal. Ou eu estava infernal. O número de automóveis nas ruas aumenta a cada dia. Está aumentando por hora. É gente dando fechada e levando fechada. E a cada fechada tem alguém esbravejando, xingando, brigando, soltando as feras, despejando adrenalina. Ontem eu estava nesta sintonia agoniante.

Tenho amigos que acreditam que tudo no mundo funciona em sintonias, em faixas de energia, criando uma grande corrente sinergética, com grande voltagem, interligando todos nós em gradações vibratórias. Na teoria deles, quando você está na faixa vibratória de um grupo violento você também se torna violento, de forma inconsciente, mas se torna.

Wilson Focássio sempre me disse isso. Mude a sintonia. Ontem, outra pessoa me disse, já no final da tarde: você precisa sair dessa sintonia. Bem que eu tento me tornar zen, ficar leve, ver o mundo com outras cores, com outros olhos. Todavia, uma faísca é suficiente para acender o estopim que no meu caso é curto demais.

O trânsito está se transformando, a cada dia, em praça de guerra. O simples fato de entrar na rua dirigindo um carro já altera a frequência de energia das pessoas. Mulheres tornam-se irreconhecíveis; gritam palavrões cabeludos e até ameaçam agredir fisicamente tanto a homem quanto a mulheres. E os homens, bom... são selvagens cães bravios, babentos de tanta ira. Sou um deles, um cão raivoso na direção.

Pelo que consta, Nagib Gabriel foi o primeiro dono de automóveis em Rio Preto, isso no final de 1919. Logo depois, surgiu a primeira lei de trânsito da cidade. A velocidade máxima permitida numa rua com aglomeração de gente era de “um homem a passo” e em campo aberto o permitido era 30 quilômetros por hora. Hoje, muita gente gostaria de colocar um zero a mais nesta velocidade. 

O fascínio do carro foi tão grande que em 1920 foi fundado o Rio Preto Automóvel Clube, para reunir os cidadãos que tinham carro. O automóvel era um artigo de luxo e de exibição. É como de hoje se fundasse o Rio Preto Aeroviário Clube, isto é, um clube para o seleto grupo de proprietários de avião.

Seis anos mais tarde, Romoaldo Negrelli inaugurava o Autódromo “Dr. Carlos de Campos”, ali na Redentora. “Cavalieri” condecorado pelo próprio Benito Mussolini, Romoaldo era apaixonado por corridas de carro. O seu automóvel era pilotado pelo italiano Nilo Arthur Abrigatto, enquanto o esloveno Antonio Svetlic dirigia os dos adversários.

Nem consigo imaginar as jovens tardes de domingo quando as pessoas, as suas roupas domingueiras, saiam para as ruas, dirigindo-se, fagueiras e tranquilas, rumo ao autódromo, para ver os chauffers bem vestidos, com suas boinas e óculos protetores, dirigindo os belos carrões da época... diriam os mais saudosistas: ah! Bons tempos aqueles... 

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