segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

RIO PRETO D - KHARFAN

Publicado no JORNAL DE HOJE





Não sei quando Kharfan me foi apresentado; nem por quem. Nem onde. Talvez por Alberto Cecconi ou Edson Baffi. Acredito que tenha sido pelo segundo. Baffi tinha muitos amigos e milhares de conhecidos. E Kharfan era um dos amigos. O local pode muito bem ter sido a Rosas de Ouro. Estive lá algumas vezes com Cecconi e com José Eduardo Furlanetto. Não foi um lugar que eu frequentei muito; preferia o Rio Branco e seu agito noturno, sua freguesia mutante; a cada três ou quatro horas mudavam os clientes; de bancários no final da tarde aos boêmios no olho da madrugada.



Rosas de Ouro era um padaria ali na Marechal, defronte o Fórum. Lembra um samba lindo cuja letra não consigo lembrar; nem o nome do intérprete. Primeiro achei que era o Zé Ketti. Depois me veio à cabeça Noite Ilustrada. Ainda acho que é um dos dois. Tentei o Professor Google, mas nada. Remete-me sempre à Sociedade Rosas de Ouro. E outras rosas que não são de ouro. Entretanto, bate uma vontade enorme de ouvir a voz especial de Noite Ilustrada e sua magistral interpretação de Paulo Vanzolini:



Chorei, não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim, não precisava
Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava
Um homem de moral não fica no chão
Nem quer que mulher
Lhe venha dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima



Kharfan me lembra os tempos de boemia, quando passava as noites de bar em bar com Cecconi, Maria dos Anjos, Furlanetto e Walter do Valle. Conhecíamos todos os bares e restaurantes da cidade. Da Rosas de Ouro ao Bar do Gordo, ali na Luiz Antonio. Seis da manhã era cedo para dormir e às dez já estávamos no pé do eito, na redação. Hoje estamos longe da boemia, vencidos pela idade. Kharfan não bebe mais. Cecconi se foi. Baffi também entrou noutro nível de vida, além do nosso entendimento. 

A boemia de hoje não é mais a de ontem. Cavaquinho e violão de Manivela, por exemplo. Onde achar? Noites com José Dantas Rodrigues, o piano do Maestro Alberto e o vozeirão de Fred Navarro? Onde ouvir serestas, sambas e choros? 

Hoje cedo encontrei Kharfan. Fazia dias que não nos encontrávamos. Falamos sobre o Islã, sobre o cristianismo, sobre as Cruzadas, sobre Saladino, papa Urbano II, Khomeini, Maomé, Estado Islâmico, Bin Laden, Hezbollah... Com isso vou aprendendo a entender outras culturas, outros pontos de vista, outros olhares sobre os fatos e o mundo. Como é difícil despir-nos de nossas crenças e verdades!

Abrir a mente, manter a coluna ereta, olhar os fatos com os olhos da alma. Eis o segredo. É isso que aprendo com os amigos, é isso que aprendo com os Kharfans que vão atravessando meus caminho com generosidade e muita sabedoria.


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