segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

RIO PRETO D - OS ROMANCES

Publicado no JORNAL DE HOJE em 20/02/15



Ernest Hemingway abre e fecha meu gosto pelos romances. Há algum tempo parei de ler romances. Volta e meia tento, porém já não me prendem a atenção como prendiam antes. Com certeza não perderei meu tempo com os tons de cinzas, de amarelos ou de vermelhos. Foi-se este tempo. Penso que o último romance que eu li foi “Anjos e Demônios”, de Dan Brown. Um belo livro até o cidadão saltar com um “paraquedas” improvisado.

Tive uma boa introdução no mundo da literatura. Começando pelos livros de bolso. Histórias do faroeste americano me foram apresentando cidades como Albuquerque, Abilene, Wichita, El Paso... Depois vieram as aventuras da estonteante Brigitte Montfort... filha da espiã nua que abalou Paris - Giselle Montfort! Histórias da Segunda Guerra Mundial e da Coreia inundavam a imaginação com os nomes pomposos como o Afrika Korps, do marechal-de-campo Erwin Rommel, a “Raposa do Deserto”. 

Das inocentes leituras de livros de bolso saltei para os livros de aventuras de Júlio Verne. Havia uma caixa cheia de livros novinhos em folha de Verne, atrás da porta de entrada da Prefeitura de Cosmorama. Foi a Alaíde que descobriu esse tesouro. Eram livros de capa dura, vermelhas com letras douradas. O primeiro que li foi “A Estrela do Sul”, depois veio “Miguel Strogoff, o Correio do Csar” e tantos outros. Quando estava me cansando de Verne, topei com “A Jangada”, uma epopeia ambientada na Amazônia brasileira! 

Foi nesta época que encarei com o parrudo “As Ilhas da Corrente”, de Ernest Hemingway. Considero este livro minha entrada no mundo da literatura. O gosto pela escrita seca, concisa, objetiva. Li todos os seus livros, entremeando Steinbeck, Hamsun, Gide, Balzac, Andric, Dostoiévski, Pushkin, Wilde, Turgueniev, Orwell, Gorky, Maughan, Genet, Jiménez, Saint-Exupéry, Mann, Fitzgerald, Hesse, Camus, Faulkner, McCullers. Poe... e os latinos; os bons latinos como Rulfo, Márquez, Llosa, Alegría, Onetti, Infante, Borges... E tantos e tantos e tantos outros, sem contar os brasileiros.

“A verdade não é, necessariamente, o contrário da ficção”. Não o é. E já o disse e escreveu Juan José Saer. Mas você leu Saer? Não, você também não leu Kincaid. Eu li sim. Li também “O Amor nos Tempos do Cólera”, um romance de velhos e de amores velhos. Talvez eu seja um Florentino Ariza. Não nego que não li Szczypiorski... não posso ler um autor com um nome tão destrambelhado como este. Os gostos devem ter um limite.

Confesso que sou apaixonado por Lady Brett Ashley e que tenho tara na mulher do tenente francês e por isso, justamente por isso, jamais peguei nesse livro para ler. Há em Sarah Woodruff algo que me fascina. John Fowles pensava num leitor como eu quando escreveu este livro. Nem o filme, com Meryl Streep, na sua melhor forma, conseguiu me segurar. Fugirei da mulher do tenente francês como o diabo fugia da cruz (hoje, ele não foge mais; ao contrário, ganha rios de dinheiro com ela).

O último romance de Hemingway que tentei ler foi “Ter e Não Ter”. Não dei conta. Ao inferno com as digressões do capitão Morgan. Fechei minha temporada de leitura diletante com este romance. Tenho saudade dos tempos em que gostava de ler romances.

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