terça-feira, 3 de março de 2015

RIO PRETO D - BRASÍLIA

Publicado no Jornal D HOJE em 03/03/15



O fotógrafo Jorge Maluf Filho é meu norte. Quando escrevo boas crônicas ele é o primeiro a ligar. Quando ele faz silêncio, penso que preciso melhorar, colocar a barba de molho. Escrever é um exercício diário. Na semana que passou ludibriei o leitor duas vezes. Por estrita falta de tempo e de oportunidade.

Brasília é uma cidade que dá excelentes crônicas, principalmente agora que o país está em crise. Claro que essa crise não é nada se comparada com as crises que vivemos nos anos de 1970 e 1980. Quem não se lembra da inflação a 85% ao mês na época do José Sarney...? Aquilo sim era uma baita de uma crise. Seu dinheiro desvalorizava por hora, por minuto.

Peguei outras crises bravas. Uma delas foi a do petróleo, em 1979. No auge da crise, eu estava em Redenção, no Pará, quando as ruas eram todas de terra. Uma fila enorme de caminhões tomou conta da cidade com a falta de óleo diesel. Era difícil entender como que uma guerra interna no Irã pudesse refletir nos preços do petróleo nos cafundós do Pará... já eram os sinais vitais da globalização.

Aliás, eu acho que a globalização sempre existiu. O Brasil é resultado da globalização quatrocentista. Não fosse a gana pelas especiarias talvez o Brasil e todas as Américas teriam sido ocupadas mais tardiamente. Mas o se não existe na história. O se é a condicional que faz a curva da história. Se Hitler não tivesse invadido a Rússia... a história do mundo ocidental teria sido outra! Dizem. Seria mesmo?

Brasília, como escrevi antes, é um celeiro de boas crônicas. Cidade das tesourinhas, das superquadras, do avião desenhado no chão, do Eixão, da Esplanada dos Ministérios, do Lago Paranoá e outras denominações exóticas, diferentes. Oscar Niemeyer saltando aos olhos em cada corcova arquitetônica, Lúcio Costa caminhando na margem da história, Israel Pinheiro perdendo o rosto na velha fotografia amarelada, Juscelino Kubitschek de Oliveira cada vez mais distante, sendo aos poucos tragado pelas brumas do tempo. 

Hoje, Brasília é o centro da raiva do povo brasileiro. O que era nossa joia se tornou, de repente, uma feia bijuteria. Livre da mordaça da censura, a imprensa destemida (engajada, chapa branca ou não) se tornou os olhos do povo e a boca da nação, denunciando, criticando, apontando o dedo para os mandões, desnudando certas biografias e revelando fatos escabrosos que ontem eram empurrados para debaixo do tapete. E todas as críticas levam a Brasília. Assim como todas as bocas vaiavam Roma.

Eu podia ter escrito uma crônica sobre Brasília, sob o dia em que subimos na Torre da TV, ao lado do estádio Mané Garrinha e de onde podíamos ver grande extensão do Eixo Monumental. A torre foi projetada por Lúcio Costa; é a terceira mais alta do Brasil (está no Wikipedia). Agora fizeram uma torre nova, que é vista ao longe, bem moderna, lá no alto do cerrado. Podia ter escrito, mas o espírito não estava preparado. Ainda me falta inspiração para escrever boas coisas sobre a nossa capital federal. Talvez me falte essa vontade por um longo tempo. (Brasília, DF)

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