segunda-feira, 16 de maio de 2022

Adeus às armas

 


Sim, é um romance de Ernest Hemingway. A Farewell to Arms, em inglês. Um belíssimo romance que narra a história de Frederic Henry e Catherine Barkley. Ele, um estadunidense servindo no exército italiano na I Guerra Mundial, condutor de ambulâncias, se apaixona por Catherine, uma enfermeira inglesa. O romance contém amor, sofrimento, lealdade, deserção e morte. Prato cheio para um bom livro, principalmente nas mãos de um autor tão obstinado pela perfeição quanto Hemingway que admitiu ter escrito o capítulo final mais de 40 vezes.

Enquanto Frederic Henry, dá adeus às armas para viver um grande amor fugindo, por meio da deserção, dos horrores da guerra, o que torna esta obra universal, nós, cerca de 60 por cento dos rio-pretenses, demos adeus às armas numa pesquisa realizada pelo Diário, agora em setembro. Claro que o voto das mulheres — menos inclinadas ao belicismo e, via de regra as maiores vítimas da valentia armada — puxou os números da pesquisa para cima.  

Pesquisas como esta revelam o sentimento das pessoas que não tem voz, não escrevem nos jornais nem são ouvidas pelas emissoras de rádio e de televisão. No silêncio, a sociedade rumina seus pensamentos e opiniões que ficam circunscritas às prosas no seio familiar ou no cafezinho, com amigos. Os que tem voz são mais afoitos, exprimem suas opiniões e fazem estardalhaço em torno delas, criando a falsa impressão de que representam a maioria.

O imaginário popular está recheado de histórias de valentões e suas malfadadas sinas. Não há registro de nenhum valentão que se deu bem ou morreu dormindo tranquilamente em sua cama, de morte natural. Ou de doença. Todos morreram violentamente, confirmando o ditado popular de que “quem com ferro fere com ferro será ferido”.

Particularmente, eu penso que todo homem que anda armado é covarde; excetuando os policiais, por dever de ofício, ou morador rural em zonas isoladas. Ele se esconde atrás da sua arma para ser valente, impor sua vontade, gritar mais alto e ser “respeitado”. Num estado de paz a arma é desnecessária. Diriam os defensores dos belicistas: mas, e os bandidos, eles andam armados? Sim, eles andam armados porque são bandidos, são covardes, são párias da sociedade. Não fossem bandidos, não andariam armados.

A competência para combater os bandidos é da Polícia, paga por nós para proteger a sociedade. Assaltos, roubos, sequestros, estupros e assassinatos sempre existiram na história do homem, desde nosso Concestral 1 (o nosso 250.000º avô, segundo Richard Dawkins). E sabemos que o homem comum, ou seja, nós, do lado do bem, não temos habilidade nem necessidade de andar armados. Devemos sim, sermos prevenidos.

Tenho 60 anos, estive em todas as capitais do Brasil e suas principais cidades, e nunca fui assaltado. Tenho o hábito de perguntar quais são os lugares violentos da cidade e não vou neles. Evito botecos, guetos, zonas de tráfico e prostituição, companheiros dissolutos. Eu faço o meu caminho. Se o ambiente não estiver bom, vou embora. Sou livre para escolher onde quero estar. Se me acontecer algo ruim isso faz parte da fatalidade, do imponderável.

Precisamos criar uma cultura de paz para nós e para o mundo. O mundo armado é funesto. Me pergunte se eu já tive vontade de matar alguém no trânsito, num bar, numa discussão? Claro que tive. Graças a Deus eu não estava armado e nem o outro. Quando se está armado, a chance de ser morto e de matar é igual, 50%. Os cemitérios estão repletos de mortos que eram excelentes atiradores e de valentões que, como diz a narrativa popular, sempre morrem nas mãos dos mais fracos.  

 

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