Fechei na sexta-feira o livro “O Novo Iluminismo”, de Steven
Pinker. Mais de 500 páginas em defesa da razão, da ciência e do humanismo. Foi
um presente de Odécio Lopes dos Santos. Eu já tinha pretensão de ler esse livro
por causa da aberta adversidade de Nassim Nicholas Taleb às ideias de Pinker.
Briga de cachorros grandes, como se diria em Cosmorama. Como a briga se situa
na esfera dos acadêmicos de Harvard é bom, como leitor, manter os dois pés
atrás.
Gosto da forma leve como Pinker escreve e gosto do humor
sarcástico de Taleb. O embate acadêmico deles é como uma pororoca de saber. O
conhecimento jorra linha a linha, às vezes sufocando quem os lê. “Cisne Negro”
e “Antifrágil”, ambos de Taleb, trabalham um viés de importância vital que
quase nunca levamos em conta: a pele em risco, eventos aleatórios e
assimetrias.
Pinker, por seu lado, baseado em pesquisas, assegura que o
Iluminismo trouxe o progresso à humanidade e, em cima de dados e percentuais,
diz que nosso mundo atual é o melhor de todos os tempos. Também, nesta linha,
Johan Norberg lançou “Progresso – Dez Razões Para Acreditar no Futuro”. É menos
denso, mas não de menor importância, e nos convida a acreditar no futuro da
humanidade, apontando um dado bastante curioso: o século XX foi o menos violento
de todos, apesar de duas guerras mundiais e outras guerras igualmente brutais.
Difícil acreditar, mas ele trabalha com os números e ajustes
populacionais e nos informa que Tamerlão, no século XIV, devastou a Ásia
Central e a Pérsia, matando, proporcionalmente, mais que Hitler, Stálin e Mao
juntos. A queda da dinastia Ming, no século XVII, teve o dobro de vítimas da
Segunda Guerra Mundial. A queda de Roma, entre os séculos III e V, não ficou
atrás.
Norberg e Taleb acrescentam outros raciocínios relevantes, como
a produção de alimentos e a superpopulação do mundo. Taleb é um inimigo
ferrenho de empresas como a Monsanto, por exemplo. No entremeio disso tudo, me
cai às mãos “Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar”, de Daniel Kahneman. É
uma leitura altamente instigante, propondo nos mostrar como essas duas formas
de pensar moldam nossos julgamentos e decisões. Estou lendo Kahneman por
influência de Laerte Teixeira da Costa.
Comecei a ler Pinker meio a contragosto. Ele defende o humanismo
como caminho viável para a humanidade vencer o “fascismo light” e nova cara do
populismo como um movimento que está “numa estrada demográfica que leva a lugar
nenhum”. Tenho reservas com a filosofia humanista.
Tanto Pinker quanto Norberg são enfáticos na defesa da
democracia liberal. O primeiro destaca duas questões relativas à felicidade
(positiva e negativa) como bens intrínsecos da população e, o segundo, assegura
que nações democráticas não invadem nem fazem guerra — — exceto os Estados
Unidos.
Estão aí, quatro boas obras para serem deglutidas no primeiro
semestre de 2019. E nem falei de Yuval Noah Harari, Richard Dawkins, Siddhartha
Mukherjee e Silvana Condemi com seu “Neandertal – Nosso Irmão”.
Ah, em tempo, Tamerlão ficou famoso pelo gosto bizarro de
construir pirâmides com crânios dos inimigos mortos.
Briga de cachorro grande.
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