sábado, 9 de novembro de 2019

Boas leituras



Fechei na sexta-feira o livro “O Novo Iluminismo”, de Steven Pinker. Mais de 500 páginas em defesa da razão, da ciência e do humanismo. Foi um presente de Odécio Lopes dos Santos. Eu já tinha pretensão de ler esse livro por causa da aberta adversidade de Nassim Nicholas Taleb às ideias de Pinker. Briga de cachorros grandes, como se diria em Cosmorama. Como a briga se situa na esfera dos acadêmicos de Harvard é bom, como leitor, manter os dois pés atrás.
Gosto da forma leve como Pinker escreve e gosto do humor sarcástico de Taleb. O embate acadêmico deles é como uma pororoca de saber. O conhecimento jorra linha a linha, às vezes sufocando quem os lê. “Cisne Negro” e “Antifrágil”, ambos de Taleb, trabalham um viés de importância vital que quase nunca levamos em conta: a pele em risco, eventos aleatórios e assimetrias.
Pinker, por seu lado, baseado em pesquisas, assegura que o Iluminismo trouxe o progresso à humanidade e, em cima de dados e percentuais, diz que nosso mundo atual é o melhor de todos os tempos. Também, nesta linha, Johan Norberg lançou “Progresso – Dez Razões Para Acreditar no Futuro”. É menos denso, mas não de menor importância, e nos convida a acreditar no futuro da humanidade, apontando um dado bastante curioso: o século XX foi o menos violento de todos, apesar de duas guerras mundiais e outras guerras igualmente brutais.
Difícil acreditar, mas ele trabalha com os números e ajustes populacionais e nos informa que Tamerlão, no século XIV, devastou a Ásia Central e a Pérsia, matando, proporcionalmente, mais que Hitler, Stálin e Mao juntos. A queda da dinastia Ming, no século XVII, teve o dobro de vítimas da Segunda Guerra Mundial. A queda de Roma, entre os séculos III e V, não ficou atrás.
Norberg e Taleb acrescentam outros raciocínios relevantes, como a produção de alimentos e a superpopulação do mundo. Taleb é um inimigo ferrenho de empresas como a Monsanto, por exemplo. No entremeio disso tudo, me cai às mãos “Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar”, de Daniel Kahneman. É uma leitura altamente instigante, propondo nos mostrar como essas duas formas de pensar moldam nossos julgamentos e decisões. Estou lendo Kahneman por influência de Laerte Teixeira da Costa.
Comecei a ler Pinker meio a contragosto. Ele defende o humanismo como caminho viável para a humanidade vencer o “fascismo light” e nova cara do populismo como um movimento que está “numa estrada demográfica que leva a lugar nenhum”. Tenho reservas com a filosofia humanista.
Tanto Pinker quanto Norberg são enfáticos na defesa da democracia liberal. O primeiro destaca duas questões relativas à felicidade (positiva e negativa) como bens intrínsecos da população e, o segundo, assegura que nações democráticas não invadem nem fazem guerra — — exceto os Estados Unidos.
Estão aí, quatro boas obras para serem deglutidas no primeiro semestre de 2019. E nem falei de Yuval Noah Harari, Richard Dawkins, Siddhartha Mukherjee e Silvana Condemi com seu “Neandertal – Nosso Irmão”.
Ah, em tempo, Tamerlão ficou famoso pelo gosto bizarro de construir pirâmides com crânios dos inimigos mortos.

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